Desde o impeachment de Dilma e o lançamento da monumental biografia escrita por Jotabê Medeiros, o cantor e compositor Belchior parece fornecer a música incidental de um universo cada vez maior de brasileiros. E ela tem sido basicamente uma, Sujeito de sorte, aquela do verso “ano passado eu morri/mas esse ano eu não morro.”
Pois bem, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que tem sua candidatura a presidente pelo PDT homologada pelo partido exatamente nesta sexta (21), fez como Emicida e incorporou trechos da música de Belchior a seu próprio, digamos, lugar de fala. No caso de Ciro, Sujeito de sorte aparece no clipe oficial de seu ingresso na corrida presidencial – não que fosse preciso mais um clipe oficial para isso, mas há um João Santana contratado para tanto.
Ciro deve ter acatado a ideia do marqueteiro de associar-se à ideia de rebeldia, provavelmente em busca de um público mais jovem. O problema é que o “conceito” – com a devida hashtag CiroRebeldiaDaEsperança – também incorpora o termo “esperança”, tantas vezes associada ao PT (“esperança vai vencer o medo”) e, mais ainda, a Luis Carlos Prestes, o “cavaleiro da esperança”.
Aqui, o clipe completo da Rebeldia da Esperança. Ele é vibrante e humano como o Brasil pode voltar a ser e homenageia meu inesquecível amigo e grande rebelde Belchior. #ConvençãoPDT #CiroRebeldiaDaEsperança pic.twitter.com/QTIMtwZzOF
— Ciro Gomes (@cirogomes) January 21, 2022
Há ainda um outro senão: a campanha vem a público no mesmo dia em que mais recente pesquisa do site Poder 360 mostra nova desidratação na intenção de voto do pedetista. Ciro agora tem 3%, atrás de Lula (42%), Bolsonaro (28%) e Sergio Moro (8%). Em relação ao levantamento anterior, de dezembro, perde 25% de seu capital político. Pelo menos perdeu menos que o governador paulista, João Doria, que passou de 4% para 2%.
Ciro está muito longe de conseguir se viabilizar como o candidato de centro-esquerda da terceira via. Terá de tirar muitos votos de Lula. Ao menos agora tem novos aliados nesse combate, já que Sergio Moro parece mais interessado em atacar o ex-presidente do que em bater em Bolsonaro.