Enquanto segue insepulta a manifestação bombástica do presidente da Anvisa, o almirante Barra Torres, que no sábado (8) exigiu retratação pública de Jair Bolsonaro, analistas políticos e chutadores de toda espécie passaram a esmiuçar as entrelinhas do texto do chefe da Anvisa.
Ao pedir retratação pública do presidente da República e exigir que ele “não prevarique”, Barra Torres fez o que talvez tenha sido o maior ataque ao atual chefe da nação vindo de alguém de extração militar que supostamente está a “combater o mesmo inimigo” de Bolsonaro.
Em sua manifestação, Torres confrontou as insinuações feitas por Bolsonaro na quinta (6) de que a Anvisa teria interesses escusos e pouco republicanos na vacinação das crianças de 5 a 11 anos.
Escreveu Torres (preserva-se aqui a grafia original e as maiúsculas respeitosas, ainda que excessivas): “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.”
O jornalista investigativo Rubens Valente, do UOL, viu “probleminha lógico” no que chamou de “nota-paulada” de Torres, justamente a frase “estamos combatendo o mesmo inimigo”. Seus seguidores especularam se esse tal “mesmo inimigo” seria o velho e bom comunismo.
A professora da UFSC Letícia Cesarino viu uma nova camada de bolsonarismo na manifestação, que ela, na verdade, lastimou: “Gente pelo amor de deus, releiam essa nota. em nenhum momento o almirante defendeu a INSTITUIÇÃO Anvisa, a política pública, o SUS. ele falou em seu nome, enquanto, conservador, cristão, militar, na mesmíssima gramática moral do bolsonarismo. Essa carta é uma aberração completa.”
Bolsonaro não treplicou a réplica de Barra Torres e dedicou suas postagens de fim de semana a supostas ações feitas pelo governo para enfrentar as calamidades ininterruptas das chuvas de Minas Gerais.