O ex-governador Ciro Gomes talvez tenha atingido nesta quarta (13) o paroxismo em seus ataques ao ex-aliado Lula. Buscando ocupar a mítica “terceira via” e se distanciar dos dois prováveis candidatos que por ora polarizam o debate político brasileiro, Lula e Bolsonaro, Ciro disse ao jornal O Estado de S.Paulo que Lula “conspirou pelo impeachment da Dilma”.
“Estou seguro disso por tudo que eu tinha visto lá dentro nas tratativas para impedir o impeachment e eu não compreendia. Eu escrevi um documentos de umas quinze páginas a pedido da Dilma, do que podia ser feito pra impedir o impeachment, e ela mandou entregar lá para um lulista, e o camarada jogou fora, não aplicou nada.”
Ciro, como se sabe, conta com os serviços do marqueteiro mais importante dos 16 anos de Lula e Dilma no poder, João Santanna, e a porrada-tiro-e-bomba contra Lula se inscreve no programa para Ciro se viabilizar em 2022.
É preciso dizer que na mesma entrevista ao Estadão, Ciro disse que Bolsonaro “liquidou as contas públicas brasileiras” e deu um palpite de que o atual presidente “não estará nas eleições”. Ele sustentou o “palpite” com o seguinte argumento: “No Brasil, do [presidente] Dutra pra cá, três presidentes terminaram o mandato, Juscelino, Fernando Henrique e Lula. Eles tinham uma capacidade extra de conciliação, até na conta do abuso, da corrupção. Bolsonaro é o oposto. Está na linha dos presidentes que não conseguirem concluir seu mandato.”
O Twitter dos principais nomes do PT, Lula incluído, não se manifestaram até às 13h desta quarta sobre as novas acusações de Ciro. Lula tem sido bastante lacônico sobre esse assunto, preferindo deixar Ciro gritando sozinho no pitch.
(Atualização – 17h)
Dilma fez uma thread em sua conta do Twitter, negando a informação de Ciro e dizendo que o ex-governador “sistematicamente distorce os fatos”. “E, nisso, não se difere em nada de Bolsonaro.”
Além disso, lamentou “ter, em algum momento dado a Ciro Gomes a minha amizade”.
E fuzilou: “Só @cirogomes é competente. Este é o pecado de sua enorme presunção. Esta é a sua visão quando se trata de avaliar o resto da humanidade. Mas quando se trata de mulher, sua visão não é só inadequada, é também profundamente misógina.”
O mais triste de tudo isso é que Ciro se diz arrependido de ter defendido a democracia. E ainda usa os mesmos argumentos dos golpistas que diz ter combatido.
— Dilma Rousseff (@dilmabr) October 13, 2021
Infelizmente para Ciro, encerro esta polêmica estéril por aqui. O Brasil precisa é discutir a gravíssima crise democrática, social, sanitária e econômica em que se encontra.
Lamento ter, em algum momento, dado a Ciro Gomes a minha amizade.
— Dilma Rousseff (@dilmabr) October 13, 2021