“Raciocínio burro: prisão não deve ser por vingança”, diz Augusto de Arruda Botelho

Augusto de Arruda Botelho || Crédito: Divulgação

Em Live de PODER, criminalista critica pensamento do “homem médio”, que não se preocupa com a ressocialização nem com o “banho frio” e a “comida podre” do preso

Um dos advogados criminalistas mais conhecidos do Brasil, Augusto de Arruda Botelho esteve na Live de PODER nesta terça-feira (6). Em uma hora de conversa com a publisher Joyce Pascowitch, ele deixou muito clara sua opinião de que a Justiça brasileira tem um problema essencial que está bastante longe de ser solucionado: ela é seletiva.

Sem usar essa palavra, ele falou da dificuldade, ou impossibilidade, das pessoas que acabam presas no Brasil – país que tem a terceira população prisional do mundo – se defenderem propriamente. “A Justiça é desequilibrada. Não tem defesa para todo mundo. Para você ter uma ideia, a Defensoria no Estado de São Paulo não tem mais de 15 anos”.

Para Botelho não é com “soluções milagrosas” que vai se mudar esse quadro. Pelo contrário, o Brasil, no âmbito de seu arcabouço legal, vem piorando a política criminal, especialmente na questão das drogas, em que o país “vai na contra-mão do mundo”.

“Em alguns estados, 60% das mulheres estão presas por processos ligados a drogas. Não que sejam traficantes, mas porque são usuárias ou levam drogas para os companheiros presos”, disse.

O problema também está na sociedade, ou no “pensamento do homem médio”, expressão que gosta de usar. Para ele, pouca gente se importa com o “banho frio”, a “comida podre” e a lotação das celas. “É um raciocínio burro. Depois que sair da cadeia, quem roubou celular pode cometer latrocínio”. “As pessoas querem prisão por vingança, não por ressocialização.”

Botelho criticou as transmissões das sessões plenárias da TV Justiça e apresentou dados que indicam que o acórdão, a argumentação de voto dos ministros do STF, aumentaram 30% desde que os julgamentos passaram a ser transmitidos.

Também falou que é “surreal” que a Ordem dos Advogados do Brasil e suas seccionais não tenham sido jamais presididas por mulheres, sendo que advogadas são em maior número que advogados na profissão. Dora Cavalcanti concorre ainda este ano à presidência da OAB-SP e pode quebrar esse “tabu”.

Ele ainda falou de sua atividade nas redes sociais, que tenta diminuir, para aproveitar o tempo livre em casa, com a mulher, a médica e ex-modelo Ana Claudia Michels, que ele diz que “vê pouco” por conta das demandas profissionais. E detalhou como foi a experiência televisiva no quadro O Grande Debate, da CNN Brasil, quando foi chamado para substituir Gabriela Priolli.

“Me ligaram numa quinta para que eu começasse na sexta. Consegui enrolar até segunda. E o Caio Coppola, de quem sou amigo [seu “oponente” no quadro], fez dez pilotos antes de começar. Eu, nenhum.”

Ao final, o advogado mostrou o livro que acabou de publicar pela editor Planeta, Iguais perante a lei, em que tenta explicar o sistema judiciário brasileiro para leigos.

Veja a íntegra da live, abaixo.