O presidente da Câmara já havia insinuado essa “solução” na quinta (5), quando, por ampla margem, o projeto de lei sobre o voto auditável foi gongado na comissão especial para discutir o tema. O deputado fluminense Rodrigo Maia chegou mesmo a tuitar dizendo que a “obsessão esotérica do Bolsonaro foi enterrada hoje pelo processo democrático”.
Pois bem. Nesta sexta (6), Arthur Lira (PP-AL), o sucessor de Maia na presidência da Câmara Federal, fez um inusitado e curto pronunciamento para dizer que o tema será levado ao plenário.
Trata-se de uma manobra dentro das “quatro linhas” regimentais, mas mesmo assim uma manobra muito pouco usual. Alinhado com o governo, Lira decidiu fazer um depósito em favor de Bolsonaro, na velha imagem do escritor Tom Wolfe.
A obsessão será levada aos 513 deputados, e não há nenhuma garantia que o projeto seja aprovado, mas Lira faz a mise en-scène que interessa a ele e ao Executivo. A parada é dura: trata-se de uma PEC, projeto de emenda constitucional, que exige 3/5 dos votos dos deputados presentes à sessão para ser aprovado.
“O plenário será o juiz dessa disputa que infelizmente já chegou longe demais”, disse Lira. E aproveitou para fazer um hedge com o outro lado: “o botão amarelo continua apertado”, disse, relembrando a imagem que havia usado para fazer a maior ameaça que já endereçou a Bolsonaro — a possibilidade de apreciar um dos mais de 100 pedidos de impeachement do presidente.