“Bolsonaro ainda é forte”, diz senador do PT Humberto Costa

Senador em segundo mandato, jornalista, médico e ministro da Saúde do governo Lula, o senador Humberto Costa (PT-PE) é multifacetado e também pode colocar no currículo que está entre os 11 integrantes da midiática CPI da Covid-19 do Senado Federal. É, talvez, um dos parlamentares mais preparados para fazer um balanço sobre as atividades da CPI, tanto pelo currículo quanto pela expertise.

Mas a estratégia, por ora, é dar tempo ao tempo.

Na leitura do petista, mesmo com as acusações de omissão no enfrentamento da pandemia, Jair Bolsonaro tem apoio do Congresso e da população, e deverá permanecer como a pedra no sapato de Lula nas eleições do ano que vem.

Em conversa com PODER Online, o parlamentar diz que apenas a pressão da sociedade pode fazer com que o parlamento acate os pedidos de impeachment contra o PR, hoje dormitando nos alforjes do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL).

Humberto Costa – Creio que a CPI conseguiu mostrar os equívocos do governo Bolsonaro na condução do enfrentamento à pandemia. O governo adotou uma estratégia equivocada e criminosa para superar o vírus da Covid-19, que é o que chamamos de imunidade coletiva ou de rebanho. A consequência estamos assistindo: a omissão na aquisição de testes, de equipamentos de proteção dos profissionais da saúde, de leitos de UTI e, agora, mais recentemente, de vacinas. E as mais de 520 mil pessoas mortas nesta pandemia. Isso está muito consolidado, em meu ponto de vista, como coisas que estão provadas e já podem constar em um relatório. Estamos em uma etapa que é para apurar se há corrupção na compra de equipamentos, medicamentos, insumos, vacinas. O objetivo é ainda ouvir funcionários e ex-funcionários do ministério da Saúde, do palácio do Planalto, pessoas que estão sendo citadas como envolvidas em algum tipo de escândalo, correlacionadas à possibilidade de corrupção.

PODER Online – A CPI pode influenciar os resultados das eleições do próximo ano?
HC – Apesar do desgaste que vem sofrendo, Bolsonaro ainda é forte, ainda tem apoio expressivo de uma parcela da população brasileira. É cedo para prever.

PODER Online – Como avalia a tentativa de aproximação de Lula com outros partidos?
HC – É importante qualquer movimento para criar uma resistência a Bolsonaro, para impedir que este governo continue cometendo os equívocos que têm cometido, qualquer coisa que impeça Bolsonaro de ter força pra dar um golpe de estado antes ou depois das eleições. É normal que o PT converse com todos os partidos, todos os setores, para unir forças e, com isso, derrubar o governo Bolsonaro.

PODER Online – O PT é um dos signatários do super pedido de impeachment entregue à Câmara dos Deputados. Acredita que ele sai do papel?

HC – Ninguém consegue fazer impeachment com [o governo tendo] uma base parlamentar forte, como agora.  Mas, principalmente, ninguém consegue fazer sem o povo na rua. E o povo está começando a ir para as ruas.  Acredito que isso possa reverter o quadro, principalmente para que os deputados e senadores pensem duas vezes antes de defender a continuidade do atual governo.

PODER Online – Os rumores sobre sua candidatura ao governo de Pernambuco são reais?
HC – O mais importante, em Pernambuco, é construir um palanque forte para Lula. É isso o que vai definir se teremos uma candidatura própria ou se iremos apoiar a candidatura do PSB ou de outro partido da Frente Popular. Se for necessário que o PT tenha um palanque em Pernambuco, poderei ser candidato.