Por Luís Costa
Há três anos, Luiz Zerbini ganhou de cinco diferentes amigos o mesmo presente de aniversário: o livro A vida das plantas, do filósofo italiano Emanuele Coccia. O artista paulistano radicado no Rio tinha interesse por elas há tempos. A publicação trouxe uma perspectiva nova: longe de serem coisas inanimadas, as plantas sentiam, comunicavam-se, expressavam-se.
Zerbini lança agora em junho o livro Botanica Monotypes, pela Fundação Cartier (320 págs., R$ 590,28). É uma seleção de trabalhos de impressão de monotipias de folhas, flores, galhos, cuja transferência para o papel permite encontrar seus detalhes, suas texturas, suas formas. Nos últimos quatro anos ele já criou mais de 300 monotipias de vegetais.
O interesse pela botânica é antigo. Na adolescência, Zerbini frequentava em Osasco (SP) a casa de Gilda Vogt – que também viria a ser pintora. Lá a mãe dela, paisagista, mostrava as muitas espécies que tinha nos seus viveiros. Quando se mudou para o Rio, ele foi morar defronte ao Jardim Botânico, onde também expôs trabalhos ligados às plantas.
“Quando [minha filha] Benedita era pequena, eu ia ao Jardim Botânico praticamente todos os dias com ela. Era o nosso playground”, lembra o pintor. Ali começou a fotografar as espécies para, depois, levá-las aos quadros pelo pincel. Mais recentemente, Zerbini passou a usar folhas como matriz para fazer as impressões de monotipia. No ateliê, na Gávea, ele cultiva palmeira, bromélia, orquídea, pitanga, jabuticaba, filodendro, pau-brasil, de cujas folhas tira a matéria-prima para a monotipia.
O uso da técnica de impressão sobre o papel não é apenas uma variedade trivial de forma. O sentido da obra é outro, já que a própria planta assume o lugar de artista. “Quando eu era criança, achavam que os animais não pensavam, que o protagonismo do homem era total. Agora, sabem também que as plantas se comunicam, que mandam informações para outras plantas, por baixo da terra estão todas conectadas e trocam informações pelas raízes”, conta.
Essas ideias foram trocadas em uma conversa com o próprio Emanuele Coccia, em Paris, durante a exposição itinerante Trees, da qual Zerbini participa e que chega em julho a Xangai, na China. O papo com Coccia fez Zerbini perceber que a impressão para o papel não era mais um trabalho solo, mas uma parceria entre o homem e a planta. “Era uma afirmação radical, que parecia absurda, mas que para mim faz todo o sentido”, diz.
Zerbini – que expõe até o fim do mês obras dos anos 1990 no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, em São Paulo – agora prepara uma exposição inédita para o Masp (Museu de Arte de São Paulo), prevista para abril de 2022. Entre a série de trabalhos, estão releituras de quadros históricos, como A Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, e a recontagem de episódios como o massacre de Haximu, de 1993, que matou 16 índios ianomâmis em Roraima, assassinados por garimpeiros.
“É tanto absurdo acontecendo, que me sinto na obrigação de fazer. A história tem uma necessidade de ser recontada. É uma chance que a gente tem de reinterpretar os fatos históricos”, diz.