Fundo JBS pela Amazônia: investimento de até R$ 1 bi na conservação da floresta

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PODER Online conversou com Joanita Maestri Karoleski, a executiva à frente do projeto idealizado pela multinacional brasileira de proteína

Dona de uma carreira de sucesso, Joanita Maestri Karoleski é o nome à frente do Fundo JBS pela Amazônia, programa que fomenta iniciativas voltadas para a conservação da floresta e o desenvolvimento das comunidades. “Os seis primeiros projetos que receberão os recursos do Fundo JBS pela Amazônia têm o propósito de desenvolver a bioeconomia na região, agregando valor aos produtos naturais, por meio do desenvolvimento científico e tecnológico, gerando renda para as comunidades e preservando a floresta.” A seguir, conheça o caminho traçado por essa executiva e mais detalhes sobre o maior fundo privado para a Amazônia.

Você nasceu no interior de Santa Catarina e se tornou uma liderança na JBS. Onde começa a sua trajetória?

Minha família sempre deu valor aos estudos. Minha mãe era dona de casa e meu pai tinha uma pequena empresa de transportes. Aos 14 anos, eu queria trabalhar e substituí uma professora da escola, dava aula para crianças de 7 a 10 anos. Trabalhei como balconista, datilógrafa e me formei em tecnologia e processamento de dados, já em Blumenau. Fui digitadora em uma fábrica de tecidos e migrei para a antiga Ceval, do grupo Hering, onde comecei a construir minha carreira. Primeiro como digitadora, depois virei supervisora e passei a liderar times. A Ceval foi vendida para a Bunge e assumi a área de negócios. Como era sempre a única mulher, precisava me provar o tempo todo. Fiquei na Bunge até 2013, quando o Gilberto Tomazoni [atual CEO global da JBS] foi para a JBS e me chamou para trabalhar na Seara, que tinha sido recém-comprada. Um ano depois, me convidaram para ser CEO.

Como recebeu o convite para liderar o Fundo JBS pela Amazônia?

O projeto Fazer o Bem Faz Bem [programa de responsabilidade social da JBS que investiu, desde o ano passado, R$ 400 milhões no combate à pandemia de Covid-19], que comandei, provou que a iniciativa privada pode ajudar na transformação do Brasil. A sustentabilidade é um desafio e está em ebulição constante. Sabiam que eu queria trabalhar com sustentabilidade, me chamaram e aceitei.

Qual a finalidade do Fundo e a quem se destina?

O Fundo JBS pela Amazônia pretende fomentar o desenvolvimento do bioma, promover a conservação e o uso sustentável da floresta e a melhoria da qualidade de vida das populações do entorno, aliada ao uso de ciência e novas tecnologias. A gente entende que é possível o desenvolvimento socioeconômico das comunidades mantendo a floresta em pé. O grande desafio é trabalhar em um projeto contínuo. A JBS vai investir até R$ 500 milhões, mas estamos buscando captação extra no mercado por meio de stakeholders, bancos e fundos de investimento. Nossa meta é chegar a R$ 1 bilhão em 2030. Pelo site, qualquer um pode inscrever seu projeto, pessoa física, organizações. Também buscamos projetos por meio de pesquisas feitas pelos nossos conselheiros.

O Fundo também é gerido por outras duas mulheres (Andrea Azevedo e Rosana Blasio). Qual a importância da liderança feminina?

A ideia é trazer diversidade, um pensamento mais humanizado. Não dá para criar um fundo de impacto ambiental, econômico e social e não ter a inclusão de mulheres em sua composição. O mundo está clamando por isso.

Pode nos dar exemplos de projetos que foram selecionados pelo Fundo JBS?

O Projeto Pesca Justa e Sustentável, desenvolvido pela Asproc [Associação dos Produtores Rurais de Carauari], fortalecerá a cadeia do pirarucu com a compra de uma embarcação para processamento do pescado. A AMAZ  [Aceleradora & Investimentos de Impacto], primeira aceleradora amazônica de negócios com foco no impacto socioambiental, receberá um aporte de R$ 2,5 milhões para apoiar 30 startups em cinco anos a alavancar negócios da floresta, além de estimular o ambiente empreendedor nos projetos da cadeia da biodiversidade.

Há iniciativas com o foco voltado para a geração de renda das mulheres?

Nas comunidades de Bailique e Beira Amazonas, no Amapá, o Programa Economias Comunitárias Inclusivas prevê a qualificação de jovens e mulheres para atuar na atividade do açaí, que será fortalecida com o investimento de R$ 15,9 milhões em três anos, ampliando a renda de 240 famílias locais. O plano comporta a construção de fábrica própria para produção de polpa, a ampliação da gama de produtos de maior valor agregado, além da construção de escolas.

Você também trabalha na mentoria de mulheres. Por quê?

Por querer ver mais mulheres em posições de comando. Tenho doado meu tempo como conselheira consultiva no Instituto Mulheres do Varejo, que busca aumentar a participação das mulheres da indústria. Quando uma mulher é convidada para uma posição, ela pensa: “Será que estou pronta?”. Já o homem aceita, confiante. Precisamos trabalhar nossa autoconfiança. Para ver mais mulheres nos conselhos, temos que ter mais mulheres em posições executivas. Só assim teremos um olhar mais diverso nas empresas e uma sociedade mais ampla e justa.