O ex-deputado pelo PSOL e ex-BBB Jean Wyllys participou de uma live nesta semana com os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff apresentando-se como a nova joia do PT. Acolhido pelos cabeças petistas, poderá voltar à vida pública atrelado ao partido de que seu antigo PSOL foi a principal e mais bem-sucedida dissidência.
Wyllys deixou o Brasil para fazer doutorado na Europa, renunciando a seu terceiro mandato consecutivo de deputado federal por conta de ameaças à sua vida. Desde o assassinato de Marielle Franco, em março 2018 até sair do país, no começo de 2019, ele vivia sob escolta policial.
Mas agora ele vai voltar, ainda que não fisicamente. Em conversa com PODER Online, o acadêmico diz que pretende retornar à política para “livrar o Brasil das hostes das máfias e milícias incrustadas neste governo”.
Ele ainda não tomou a vacina e diz seguir os protocolos de higiene para não se infectar. Habilidoso com as palavras, quem sabe, não conquiste sua própria aba no site do PT (tal qual Lula, que tem uma sessão para chamar de sua) e no coração dos brasileiros que resistiram ao antipetismo.
Jean Wyllys falou com PODER Online.
Poder Online – Por que o PT? Não tem medo da rejeição do partido, que foi alta nas duas últimas eleições?
Jean Wyllys – As razões de eu ter me decidido pelo PT estão claríssimas em meu discurso na cerimônia online que oficializou a entrada no partido. Em resumo, trata-se de 1) enfrentar claramente o antipetismo, força antipolítica aniquiladora da diversidade e instauradora de um darwinismo social nefasto; 2) investir na única alternativa concreta para superarmos o fascismo em que nos meteram o golpe de 2016 contra Dilma e os preconceituosos da classe média, uma parte racista e classista que não admite a pouca justiça social garantida pelos governos petistas. Essa única alternativa a que me refiro se chama Luís Inácio Lula da Silva, que, apesar de toda lawfare e difamação perpetradas contra ele, segue líder em todas as pesquisas de opinião. Como eu já disse, não dá para investir energia no que não pode dar certo; temos mais 400 mil cadáveres em cena, isto impede a esquerda e a centro-esquerda responsável de empreender aventuras baseadas em ressentimentos e egos; e 3) comprometer o programa do novo Lula com agendas caras ao século 21, como equidade de gênero, economia sustentável e combate à desinformação programada.
Poder Online – Tem ambições políticas para 2022? Quais?
Jean Wyllys – Minha ambição política é livrar o Brasil das hostes das máfias e milícias que incrustam esse governo. Livrar a democracia brasileira, arruinada desde 2016, deste mal que ameaça a todos, inclusive a imprensa de direita.
Poder Online – O que pensa sobre a atuação da oposição na pandemia, diante os escândalos de corrupção e a CPI da Covid?
Jean Wyllys – Se você se refere à CPI do Genocídio, posso dizer que a atuação dos senadores está aquém do esperado. Eles têm assessores muito bem pagos e um acervo digital da atuação criminosa do governo Bolsonaro em relação à pandemia de Covid-19 que seriam suficientes para eles desmoralizarem e desmascararem qualquer dos mentirosos do governo convidados a depor. A CPI deve dispor de um telão para exibir os prints da desinformação criminosa perpetrada por Bolsonaro, seus filhos, ministros, secretários e parlamentares aliados. A CPI precisa entrar no século 21 para ter mais autoridade e mais facilmente expor as mentiras do governo genocida.
Poder Online – Tomou a vacina? Onde?
Jean Wyllys – Ainda não. Estou esperando a chamada para as pessoas da minha faixa etária, dos 40 aos 50 anos. Até lá, tomo todos os cuidados necessários para não me infectar.
Poder Online – Voltará a viver no Brasil? Quais as diferenças entre seu tempo como parlamentar e agora?
Jean Wyllys – Só voltarei ao Brasil quando avaliar que é seguro retornar, que terei minha vida protegida. Até lá estou bem onde estou e sigo atuando em segurança. A democracia começou a se arruinar em 2016, com o golpe contra Dilma. Com o assassinato de Marielle Franco e sucesso eleitoral da extrema-direita em 2018, incluindo aí a ascensão de dois embustes à condição de ministros de Bolsonaro, Sergio Moro e Paulo Guedes, a ruína só se aprofundou. Creio que seja difícil ser deputado de oposição numa democracia em ruína.
Poder Online – Se arrepende de abrir mão do mandato?
Jean Wyllys – Não. Ao contrário. E meu exílio foi a primeira denúncia do horror que significava a vitória da extrema-direita no Brasil. Se pra vocês, da imprensa brasileira, parecia normal um candidato recém-eleito se juntar a fundamentalistas religiosos, num condomínio habitado por membros de facções criminosas, para fazer uma oração neopentecostal diante das câmeras de tevê, para mim este era o prenúncio de uma desgraça. Infelizmente eu tinha razão.