Há muito tempo, talvez até antes da extinção dos dinossauros, o Brasil era considerado um país pródigo em várias coisas.
Era o país do futebol, da bossa-nova e até, forçando um pouco a barra, do soft power.
E da arquitetura modernista. E da arquitetura brutalista.
Dois arquitetos brasileiros ganharam prêmio Pritzker, o por assim dizer Nobel da arquitetura. Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, que morreu neste domingo (23), aos 92 anos, em consequência de um câncer no pulmão.
Capixaba, mas desde criança em São Paulo, construiu praticamente toda sua obra na capital paulista. A reforma da Pinacoteca do Estado, nos anos 1990, talvez seja seu grande cartão de visitas, mas ele deixou outras marcas importantes na paisagem, como o Mube, no Jardim Europa, a cobertura da praça do Patriarca, o Museu da Língua Portuguesa, na estação da Luz e, bem recentemente, o Sesc 24 de Maio.
Numa entrevista histórica ao jornalista e escritor Jotabê Medeiros, Mendes da Rocha disse que “o homem nasce arquiteto (…) Você não pode ensinar arquitetura para ninguém, mas pode orientar como pensar, como estudar.”
E neste domingo (23), em belo texto memorialista na Folha de S.Paulo, o arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP Guilherme Wisnik, que conviveu com Paulo Mendes, termina seu artigo citando uma frase do mestre, a quem chama de “socrático”, por utilizar um método semelhante ao do pai da filosofia grega, exercitando a todo momento a dúvida e exigindo de seus assistentes e circunstantes postura igualmente inquieta.
“Não podemos ter saudades de nada. A experiência não deixa saudades. Dá um ímpeto desgraçado para o futuro”, dizia Mendes da Rocha.