Talvez seja injusto, pelo engajamento com que defende suas ideias e pelo tempo que já leva de vida pública, que o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) seja descrito na primeira opção de busca do Google como “filho de José Dirceu”. É inegável que seu pai, ex-guerrilheiro que se tornou deputado federal pelo PT e segundo principal quadro do partido depois de Lula, de quem Zé foi ministro da Casa Civil antes de cair em desgraça com o Mensalão, tem uma biografia copiosa, uma das mais importantes da redemocratização.
Mas Zeca já está em seu terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal e também tem experiência executiva, já que foi prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR). Sua relação com o pai, ele faz questão de dizer, aliás, é “ótima”.
Em 2019, tornou-se uma figura nacional, pode-se dizer, ao polemizar com Paulo Guedes. Durante uma audiência sobre a reforma da Previdência, com o ministro da Economia sendo interpelado na Câmara, o deputado disse que Guedes era um “tigrão” com os aposentados, mas uma “tchutchuca” com os banqueiros do Brasil.
A Câmara veio abaixo.
Hoje vice-líder da minoria na Casa, Zeca disse a PODER Online que repetiria tranquilamente a “performance”. “Quem ficou em dúvida em 2019 hoje percebe claramente o quanto a condução da política econômica no Brasil tem sido desastrosa.”
Aos 42 anos e antenado com os novos tempos, ele reconhece que a vida privada pode ganhar mais espaço do que a pública nas redes sociais, e não se furta a comungar parte de sua rotina familiar no Instagram. Seu porte físico, que lembra a versão da Marvel para o deus escandinavo Thor, também ajuda um bocado em sua popularidade digital.
PODER Online – O senhor defende que os resultados negativos da pandemia têm sido menores nos lugares onde o PT governa. Pode explicar?
Zeca Dirceu – Em setembro, nós já sugerimos ao governo federal a aquisição de vacinas, a necessidade de relação diplomática com a Rússia e com a China, a importância de apoiar iniciativas da Fiocruz, do Butantã e de vários outros institutos. As universidades queriam desenvolver vacinas no Brasil. Se o PT governasse o país, isso teria sido feito. Tanto é verdade que isso foi feito em 2009, com a H1N1. Em três meses, o presidente Lula vacinou 80 milhões de brasileiros. Nós temos a melhor estrutura do mundo em vacinação. Nenhum país do mundo tem 30 mil postos de saúde espalhados em todas as regiões, tem 40, 50 mil resfriadores em todas as cidades.
PODER Online – Qual o perfil da esquerda na Câmara de hoje?
ZD – De defesa da classe trabalhadora. Não fosse a oposição, o Brasil com certeza estaria muito pior. O [presidente] Bolsonaro teria avançado em suas pautas antidemocráticas, armamentistas… É um perfil combativo, de luta, de denúncia e também de contribuição. Nós temos muitas ações propositivas. Assinei projeto para mudar a tributação para cobrar mais dos bilionários e menos do setor produtivo, menos de quem gera emprego; do agricultor, dos empresários, do trabalhador e da trabalhadora. A taxação de heranças, das grandes fortunas, de lucros e dividendos, isso ajudaria o país a ter mais dinheiro para o SUS [Sistema Único de Saúde], para a Educação e diminuiria os impostos dos mais pobres.
PODER Online – Como vê o Centrão e seus autodenominados “deputados independentes”?
ZD – Infelizmente, existe um conjunto de deputados que estão sempre ao lado do governo. Muitas vezes, votam a favor de temas sem medir as consequências. Me lembro bem na época da reforma trabalhista, quando alguns votaram convencidos de que isso traria mais emprego, renda, faria o país crescer. Essa mentira não foi movida por ingenuidade, mas pelo acesso a cargos e privilégios no governo.
PODER Online – Qual sua expectativa para 2022?
ZD – Estou muito otimista. Com certeza, o PT e os demais partidos de esquerda devem crescer. A volta do [ex-] presidente Lula, com a anulação das condenações injustas, nos deixa animados. Com Lula elegível e liderando as pesquisas, acredito que vamos eleger bancadas maiores, e teremos condições de governar o Brasil e fazê-lo feliz novamente.
PODER Online – Quais são seus projetos políticos para o próximo ano?
ZD – Continuar ajudando meu estado e [seguir] combatendo as inconsequências e irresponsabilidades do Bolsonaro. Quero fazer um balanço da minha ação como deputado, que terá 10 anos. Um mandato em favor do Paraná, dos segmentos e dos municípios que eu represento. E é um mandato feito com as mãos limpas. Não respondo a nenhum processo por corrupção. Nunca fui nem denunciado. Fui muito investigado, minha vida toda foi devastada várias vezes, mas continuo com as mãos limpas.
PODER Online – Como se sente em relação às condenações de seu pai, o ex-ministro José Dirceu, e do ex-presidente Lula?
ZD – As condenações envolvendo meu pai e Lula são injustas e sem provas, desmascaradas pelas conversas do próprio juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato que agiram totalmente fora da lei, com objetivos eleitorais já muito conhecidos de todos. A decisão do STF anulou as condenações de Lula e espero que anule também as do meu pai. Mais importante que isso, o Judiciário transformou Moro em um juiz suspeito pelas ilegalidades que ele cometeu. [Nota da redação: ambos foram condenados no âmbito da Operação Lava Jato, mas Dirceu ainda pelo escândalo anterior do Mensalão]
PODER Online – O episódio em que chamou o ministro Paulo Guedes de “tchutchuca” foi muito criticado à época. O senhor se arrepende?
ZD – Com certeza eu repetiria o que disse e adjetivaria muito mais. Quem ficou em dúvida em 2019 hoje percebe claramente o quanto a condução da política econômica no Brasil tem sido desastrosa. Nosso país não cresce, não gera emprego nem distribui renda desde 2019. Nosso país está de joelhos aos interesses dos banqueiros, dos milionários, dos rentistas que vivem de juros e especulação financeira. Bolsonaro e Paulo Guedes só trabalham para esses.
PODER Online – Como lida com o rótulo de galã?
ZD – Fico feliz, pois me cuido. Sou uma figura pública, dependo também da minha imagem para me apresentar, me expressar. Mas são cuidados pessoais básicos, shampoo, hidratante, uma ida ao cabeleireiro de vez em quando. E procuro me vestir de forma variada, e isso acaba chamando a atenção. Uma roupa mais descontraída, uma foto sem camiseta em um momento de descanso. E dá repercussão. Eu tenho muita gente que me segue nas redes sociais, me admiram mais como pessoa do que do que do ponto de vista político.