João Doria

João Doria || Crédito: Divulgação Governo de São Paulo

Governador paulista faz sua enésima coletiva de imprensa, desta vez para anunciar toque brando de recolher visando conter as baladas noturnas; político tenta se postar mais uma vez do lado iluminado da ciência no combate à Covid-19

Blaise Pascal disse, e João Gilberto cantou, que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Nada a obstar, mas hoje outros substantivos poderiam substituir tranquilamente o sujeito da oração.

A política, por exemplo.

O governador paulista João Doria anunciou hoje em coletiva de imprensa medidas de restrição de circulação que se assemelham a um “curfew”, um toque de recolher, obrigando que os 40 e tantos milhões de paulistas fiquem em casa entre 23h e 5h da manhã seguinte.

Essa privação de circulação é, obviamente, um anúncio que pouca gente gostaria de fazer, especialmente numa sociedade democrática. Os passivos políticos parecem bastante consideráveis.

Acontece que a ordem natural das coisas foi seriamente abalada pela pandemia de Covid-19 e pela maneira como o Brasil vem respondendo a ela.

A política agora tem razões que a própria razão desconhece.

É claro o esforço do governador em se mostrar ao lado da ciência, numa tentativa de antagonizar o negacionismo bolsonarista. Ainda assim, na coletiva, ele tentou de toda maneira não usar as expressões “toque de recolher” e “lockdown”.

No final, ficou claro que o tal “toque de restrição”, no neologismo inventado pelo gabinete do governador, é uma medida dissuasória para baladeiros.