Grandes decisões tomadas em momentos de desespero não são incomuns na política. Do suicídio de Vargas à apropriação indébita por Bolsonaro da “vachina chinesa do Doria”, agora “vacina do Brasil”, exemplos pululam.
O desespero não prescinde, evidentemente, de cálculo político, e o enfraquecimento notável e progressivo de Rodrigo Maia nesta última semana em que desfruta da chefia da Câmara Federal pode levá-lo a tomar um gesto extremo na segunda-feira.
Esse enfraquecimento de Maia se traduz pela perda de controle inclusive sobre os deputados de seu próprio partido, o DEM, que estão a ouvir o canto da sereia adesista de Arthur Lira (PP-AL), candidato à sucessão de Maia patrocinado pelo Governo Federal.
E o gesto extremo seria abrir um dos mais de 60 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro que ele deixou dormitar por longos dois anos.
Aliados apostam nesse truco de Maia, que, dizem, tem “culhão” e poder suficiente para atrasar a votação da próxima Mesa Diretora, marcada para a próxima segunda-feira.
Um dia no Congresso pode ser o dia mais monótono que alguém pode ter em vida, mas o oposto disso é perfeitamente possível. Dá para mudar leis, fazer projetos sob encomenda, beneficiar ou prejudicar qualquer categoria — um plano de fundo republicano de fachada vai bem.
“Não é impossível, isso realmente pode acontecer. Tudo pode acontecer na política. Basta lembrar quando, às vésperas de ser preso, o ex-presidente Lula quase foi nomeado ministro de Dilma Rousseff em uma clara manobra política para conquistar o foro privilegiado”, lembrou o professor de Ciência Política da UnB Carlos Alberto Moura.
Gente do Planalto diz que o devaneio de Maia teria sido ouvido pelo general Luiz Eduardo Ramos no telefonema em que o próprio Maia reconheceu depois ter sido um tanto fora de tom.
PODER Online tentou falar com o ministro e com Maia, que ainda não responderam aos questionamentos. Espaço aberto anytime.
Legalmente, cabe a Maia, e apenas a ele, dar curso a qualquer pedido de impeachment, mas para que a ação prospere ela precisa ser endossada por 2/3 dos deputados federais — 342 de 513.
Bolsonaro tem desdenhado desses pedidos de impeachment, até por confiar que a eleição de Lira está no papo — e mesmo Baleia Rossi, seu principal oponente, vem se distanciando eloquentemente do tema.
Mas numa época em que o Planalto se vê acuado por crises diversas, Guerra das Vacinas à frente, ter mais uma agenda negativa para carregar é dose.