Senador cearense do Podemos, Eduardo Girão tem um tom de voz amável que usa para criticar a polarização política que dificulta a boa convivência democrática, cita pacifistas como Mahatma Ghandi em suas intervenções, mas jamais deixa de contribuir para divergir do propósito principal da CPI, que é apontar os ilícitos e malfeitos no combate ao espalhamento da Covid pelo país. Girão na verdade até quer investigar malfeitos, mas apenas os dos grupos políticos que fazem oposição ao governo federal. Sua obsessão máxima é com a figura de Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência de Dilma Rousseff, que ficou famoso por levar a presidente por passeios de moto por Brasília. Como ex-secretário executivo do Consórcio do Nordeste, reunião dos estados da região para combater a Covid, Gabas estaria por trás do contrato de compra de ventiladores pulmonares que não chegaram a ser entregues. O fato de a empresa beneficiada se chamar Hempcare – e comercializar produtos a base de maconha, outra obsessão do senador –, vem a calhar com a “narrativa” contra Gabas. O senador pode se lançar candidato ao governo do Ceará em 2022
Gaúcho de Passo Fundo, mas tendo crescido em Sergipe, Alessandro Vieira (Cidadania) está sem seu primeiro mandato parlamentar. Policial civil, foi eleito em 2018 na onda antipolítica – a atribuição “delegado” aparecia antes de seu nome na urna – pela Rede Sustentabilidade. Vieira se tornou delegado-geral do estado, mas acabou exonerado pelo ex-governador Jackson Barreto. Chegou à política tendo passado pelo grupo RenovaBR, que também preparou os deputados Tábata Amaral e Felipe Rigoni. Alessandro vem se destacando na CPI por sua capacidade de síntese, objetividade e tirocínio, destoando tremendamente de seus colegas de comissão, em geral prolixos e incapazes de extrair respostas convincentes de testemunhas e inquiridos. Seu grande momento talvez tenha sido durante a oitiva do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, Luís Ricardo, quando foi duríssimo com o parlamentar. Logo em seguida, em resposta à senadora Simone Tebet (MDB-MS), Miranda acabou por entregar o nome que até a inquirição de Vieira ele ocultava – o do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara Federal
Diferentemente do colega Alessandro Vieira, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) tem experiência parlamentar prévia, tendo sido eleita pela Rede Sustentabilidade para a Câmara Federal em 2014. Depois de ser vice-líder dessa sigla na Casa, migrou para o PPS, que mudaria de nome para Cidadania. Junto com Simone Tebet (MDB-MS) e Leila do Vôlei (sem partido-DF), destaca-se na bancada feminina, que conseguiu espaço na composição da CPI após tomada de posição vigorosa contra a cúpula da comissão. Jornalista, Eliziane faz arguições objetivas, ainda que o idioma parlamentar, mais empolado, já domine suas intervenções. Segundo o site Congresso em Foco, Eliziane votou alinhada com o governo federal em 78% dos projetos apresentados no Senado até o fim de junho. Em muito recente entrevista ao UOL, a senadora afirmou que Jair Bolsonaro “avança na tentativa” de implantar um regime militar no Brasil. “Estamos aqui fechados no sentido da garantia da democracia.”
Unha e carne com Jair Bolsonaro, o senador Jorginho Mello (PL-SC) deixou bem claro nesta terça (10), em sua primeira intervenção do dia na CPI da Covid, quão alinhado está com as causas do Planalto, embora “pague” de independente. Em vez de criticar o presidente por fazer acusações claramente golpistas a partir da falácia da incorreção das urnas eletrônicas, ele preferiu atacar o antípoda de Bolsonaro. “Eu não quero criar polêmica, mas estamos fazendo cavalo de batalha tão grande, isso é bobajada, o ministro do STF [Luís Roberto] Barroso tá tentando fazer queda de braço aí…” Assim, não surpreende que ele fique embevecido a cada vez que é citado nos discursos do presida. Mello gosta de dizer que busca implementar projetos que envolvem o corte de recursos públicos e que estimulam a economia, como o Pronampe, de apoio aos microempresários, que o tornaram querido no Planalto. Em 2016, quando era deputado federal, Jorginho quase foi homenageado em enredo carnavalesco pela Escola de Samba Acadêmicos do Grande Vale, de Joaçaba (SC), sua base eleitoral. O “quase” está ali porque, na última hora, o Ministério Público Federal resolveu investigar a deferência alegando que o filho de Jorginho, Filipe, então secretário de Turismo e Lazer de Santa Catarina, poderia ter favorecido o repasse de verba para a festança se o papai fosse tributado no desfile. O senador tem o nome vinculado a 21 processos em andamento na Justiça brasileira. Segundo o Congresso em Foco, Jorginho alinhou-se ao governo em 93% das pautas votadas no Senado