Quais as grandes lições da pandemia para os comandantes dos negócios mundiais? O velho jeito de liderar equipes e mesmo a filosofia de maximizar a produtividade seguem na ordem do dia? Na tentativa de responder a essas questões, um veterano ex-repórter da BBC, hoje chairman de uma consultoria empresarial, a Black Isle, Atholl Duncan, entrevistou 28 líderes globais que naquele momento de 2020 estavam em lockdown. Eles disseram ao consultor como imaginavam o novo processo de trabalho das empresas que lideravam. As entrevistas se tornaram o livro Leaders in lockdown (disponível, em inglês, pela Amazon). Segundo o autor, “trabalhando em casa”, esses líderes tiveram tempo para “refletir e focar suas mentes no futuro para tentar resolver a questão: ‘E agora?’” Um dos entrevistados, Mark Thompson, CEO do jornal The New York Times, disse que “deveria usar melhor os espaços de trabalho” e “dar mais liberdade aos comandados para planejar suas vidas”. Sob o comando de Thompson, o NYT mais que quadriplicou seu valor de mercado. Thompson revelou ainda que considerava que aqueles líderes capazes de dar a resposta mais rápida aos tempos pandêmicos (e pós-pandêmicos) é que iriam sobreviver. “Agilidade e capacidade de entendimento” são as principais capacidades exigidas, disse. (WikiCommons)
Para a CEO de Europa, Ásia e Oriente Médio do grupo de seguros Zurich, Alison Martin, também entrevistada por Duncan, valores que não são exatamente pertinentes ao dia a dia da empresa passaram a ser levados em consideração. “Como é o mundo que aspiramos para nossas crianças viver? Podemos tentar construí-lo em vez deste que nós estávamos destruindo antes da Covid?”, perguntou, retoricamente, ao entrevistador. No livro Alison deixa claro que considera ser necessária uma liderança que atente para a chamada “economia do stakeholder”: “Nosso papel na sociedade é estar lá para nossos clientes, nossa comunidade, sócios e para o planeta. Nós temos uma responsabilidade social muito mais ampla.” A seguradora, como outras cerca de 200 companhias mundiais, assinou o compromisso com as Nações Unidas para envidar esforços pela mitigação do aquecimento global, considerando plausível a meta de subir a média mundial de temperatura em apenas 1,5 grau. Quanto às mudanças trazidas pela Covid-19 em seu setor, ela falou de “aceleração digital” e revelou que processos antes mais burocráticos, como solicitar seguro após uma colisão de carro, deveriam ser resolvidos de maneira muito mais rápida. Citou como exemplos “fotografar pelo celular os danos” e “assinar contratos digitalmente”. (World Economic Forum / Christian Clavadetscher)
Para Nupur Singh Mallick, a executiva-chefe de recursos humanos do Tata Group, o conglomerado de 30 companhias que orbitam em torno da principal montadora de automóveis da Índia, a ideia de que a comunidade é apenas uma das partes interessadas dentre aquelas com a qual a Tata tem obrigações como empresa, na definição já mencionada da economia do stakeholder, não é exatamente precisa. Para ela, a comunidade é “o propósito de nossa própria existência”. “O que vem da sociedade deve voltar para as pessoas. É sobre ajudar a população e à Índia”. O grupo colocou 600 mil colaboradores em esquema de home office. Ter tamanha escala de trabalho nesse sistema era algo, diz a executiva, de que a companhia sempre foi “relutante”. Nesse novo processo, as pessoas se tornaram “mais colaborativas”, “mais gentis” e “muito mais pontuais em reuniões”. Quando foi entrevistada, Mallick prognosticou que até 2025, apenas 25% dos colaboradores do grupo voltariam a trabalhar no esquema old-school, nos escritórios da empresa.(Divulgação)
Chief Privacy Officer do London Stock Exchange Group, companhia que controla as bolsas de Londres, Milão (Borsa Italiana) e outras empresas subsidiárias, a executiva Vivienne Artz fala a Dunca sobre a importância do controle de dados. Partindo dos exemplos dos países que em 2020 mais testavam e melhor rastreavam as condições de saúde de seus nacionais, ela vê como fundamental, especialmente por conta da gestão de saúde pública, ter acesso a dados sensíveis. “Esta pandemia sublinhou a necessidade de que temos de processar dados sensíveis. Não apenas os governos, mas o setor privado. O setor farmacêutico tem de acessar esses dados para inovar. Eles precisam descobrir o que ainda não sabem”. A executiva ainda liderou uma ONG de alcance global que milita em favor de equidade de gênero no setor financeiro, a Women in Bank & Finance (WIBF), e, assim, se sentiu à vontade para tecer considerações sobre os “skills” femininos. “As mulheres não pensam apenas em um problema, mas o que esse problema significa para toda a sociedade. O resultado é uma muito maior empatia com as pessoas”. (Reprodução/YT)