A nova ordem mundial pós-pandemia, em quatro quadros
A nova ordem mundial pós-pandemia, em quatro quadros
06/maio/2021 por Lincoln
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A pandemia acelerou a digitalização de processos e mostrou que a produtividade global pode não sofrer abalos com o teletrabalho. Mas o que vem agora? As empresas podem testar modelos híbridos, com menos proximidade física no “presencial” e controle intensificado no “remoto”. Para muita gente, o que parecia um bônus, trabalhar em casa, tornou-se um ônus. O filósofo sul-coreano Byung Chul-Han vê no mundo um apatia generalizada oriunda talvez da interdição do contato social. O filósofo acrescenta a isso a necessidade cada vez maior de autorrealização. Isso integra o que chama de “sociedade neoliberal do rendimento”, em que as pessoas se “exploram voluntária e apaixonadamente”, acreditando, com isso, que se realizam. (Crédito: Pixabay)
O acesso praticamente ilimitado a conhecimento em tantas áreas criou o que foi sintetizado pelo acrônimo em inglês FOMO (de “fear of missing out”). O assunto já foi objeto de uma reportagem da PODER, que descreveu o fenômeno como “a vontade de aproveitar ao máximo as possibilidades apresentadas pelo mundo” e a outra face disso, “a pungente necessidade de saciar essa vontade”. Ouvida pela reportagem, a psiquiatra e psicanalista Leda Spessoto, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, clamou pela necessidade de se determinar limites, sem o qual “a pessoa vai sofrer, fragilizar-se e até adoecer”. Para aquelas pessoas cuja performance depende diretamente dessa fome de conhecimento, saber como se proteger do FOMO é uma arte. Afinal, o mundo corporativo hoje vive sob o domínio de outro acrônimo inglês, o VUCA (de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). Os desafios atuais englobam negociar cada vez mais com múltiplos países, cada um com regulações e idiossincrasias culturais próprias; lidar com a interrupção da cadeia global de fornecimento de componentes – como observado na pandemia na indústria eletrônica e de vacinas – e saber atuar diante de flutuações inesperadas de preços por conta, por exemplo, de acidentes ambientais; tudo isso exige dos líderes abordagens inovadoras, fora da cartilha, o que inclui experimentar e testar os resultados. (Crédito: Divulgação/Newegg)
O conhecimento científico e o salto de tecnologia que permitiu, por exemplo, o rápido desenvolvimento de vacinas contra a Covid, pode gerar riscos importantes para a democracia e para o direito dos indivíduos de uma sociedade. Trata-se de uma faca de dois legumes, para usar o famoso chiste involuntário do cartola corintiano Vicente Matheus. Em “Ferramentas e Armas”, livro recém-lançado no Brasil pela Alta Books, o presidente da Microsoft, o norte-americano Brad Smith, e a diretora de comunicação da empresa, Carol Ann Browne, listam alguns dos dispositivos que estão se tornando cada vez mais comuns em todo o planeta e que, se têm grande serventia para o bem comum, podem também vir a ser usados para restrição de liberdade, invasão de privacidade e vigilância excessiva. Reconhecimento facial é um deles. Em entrevista recente para o advogado brasileiro Ronaldo Lemos, do ITS, Instituto de Tecnologia e Sociedade, o executivo listou a vantagem do aparato para, por exemplo, encontrar pessoas desaparecidas ou diminuir a espera na imigração de aeroportos, mas manifestou temor por seu uso por forças de segurança governamentais para criação de um inventário de manifestantes, mesmo que de protestos pacíficos. Cidades que já testaram o dispositivo, como San Francisco e Oakland, barraram seu uso, mas o estado de Washington o aprovou em 2020, com ressalvas. As gigantes Amazon, Microsoft e IBM pararam temporariamente de comercializar seus softwares de reconhecimento facial para forças de segurança e o Google interrompeu o desenvolvimento de seu programa até ter uma visão mais clara das regulações. (Crédito: OAK)
O próprio desenvolvimento da internet, a comunicação em rede que propiciou o acesso a informação rápida e a fontes antes virtualmente inacessíveis, além da possibilidade de se realizar transações financeiras e acordos remotos, trouxe embutido um risco que vem aumentando ao longo dos anos, o dos ataques cibernéticos. A aurora desse mundo distópico e paradoxal foi 2017, pode-se dizer, com o WannaCry, ataque que parou sistemas hospitalares e de outras organizações em nada menos do que 150 países, e que gerou prejuízo global estimado em US$ 8 bi. Até mesmo o Hospital de Amor, antigo Hospital do Câncer, de Barretos, em São Paulo, foi atingido. A Ucrânia foi vítima de um ataque análogo logo depois. NotPetya derrubou o tráfego de dados de virtualmente todas as atividades econômicas do país, de estações de TV a bancos. Foi um sequestro digital, cujo resgate, em cibermoeda, garantiria a devolução dos reféns – os sistemas invadidos. O prejuízo estimado do NotPetya foi de US$ 850 mi, ou 0,5% do PIB do país. O Brasil é bastante vulnerável a ataques cibernéticos, sendo o país que mais tem vítimas do chamado “phishing” – variação de “fishing”, pesca, em inglês –, quando um anexo ou link atraente é enviado para alguém, por e-mail ou zap, e, tendo sido aberto pelo incauto, dá acesso a um malware que pode pescar os dados da vítima.
(Crédito: Pixabay)