A dinâmica, já experimentada com gosto pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é a seguinte: sair aclamado candidato a presidente da República por uma determinada sigla para que, mais tarde, essa mesma sigla possa cobrar mais pelo apoio que oferecerá a uma legenda e a um candidato mais competitivos. É o caso da senadora Simone Tebet (MS), em dezembro homologada pré-candidata do MDB a presidente da República. A senadora, que teve grande destaque na CPI da Covid-19 e, liderando a bancada feminina, tornou-se ali nome nacional, traz capital político intrínseco por ser… mulher. Trata-se, até aqui, da primeira pré-candidata mulher nas eleições para presidente do Brasil. Mas a vocação adesista do MDB e seu histórico na redemocratização, compondo chapa por duas gestões com o PT de Dilma Rousseff, não indicam voo solo. Simone escolheu diligentemente as palavras no discurso da cerimônia de homologação, abrindo uma pletora de possibilidades: “Política é arte de construção, de construção no coletivo. Ninguém faz nada sozinho”. E também: “Essa missão tem clamor da urgência. A urgência porque o nosso povo, o povo brasileiro, está morrendo de fome depois de centenas de milhares de brasileiros terem morrido por uma saúde omissa, insensível e negacionista.”
(Crédito: Marcos Oliveira/Agência Senado)
O fracasso retumbante em sua campanha presidencial de 2018 e a perda de espaço para João Doria, seu sucessor no palácio dos Bandeirantes, rebaixaram as pretensões do ex-governador paulista Geraldo Alckmin . Ao mesmo tempo em que ainda aparece liderando pesquisas para o governo de São Paulo em 2022, ele se tornou nome de pouca penetração nacional. Exceto, como bem percebeu Lula, se concorrer a vice-presidente. Para o PT, Alckmin tem o potencial de minorar o custo do antipetismo, que pode se mostrar relevante num hipotético segundo turno. Além disso, Alckmin certamente traz votos no interior de São Paulo e quem sabe na região Sul. Mas o ex-governador, como sempre, joga parado, não tendo nem mesmo deixado o PSDB, que já definiu seu candidato para o Bandeirantes – o atual vice-governador paulista, Rodrigo Garcia. Alckmin, enfim, não refuta a aproximação de Lula, nem a abona. Embora a possível chapa Lula-Alckmin tenha sido saudada por forças de esquerda como o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), luminares do PT já começam a bombardear a especulação. Rui Falcão, ex-presidente do PT, lembrou de atos sob Alckmin no Bandeirantes, como a violência policial na desocupação da comunidade de Pinheirinho e os eternos conflitos com os professores da rede pública. (Crédito: Gov-SP)
Sob todos os aspectos, a carreira política de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) é meteórica. Em seu primeiro mandato como deputado federal, chegou à presidência da CCJ; e com apenas dois anos de Senado, tornou-se presidente da Casa. Ser lançado candidato a presidente da República pela sigla a que acabou de aderir, o PSD, parece, assim, consoante com a velocidade de sua vida pública. Mas o nome tão saudado por Gilberto Kassab, presidente e “ideólogo” maior do PSD, tem claro potencial de composição. Pacheco, que em seus discursos busca ocupar uma posição de equidistância dos polos mais radicais, invocando inclusive uma certa tradição de moderação política de Minas Gerais, é o nome do Centro por excelência. Problema: Kassab posicionou seu PSD distante de Bolsonaro, talvez por esse espaço já estar ocupado pelo Centrão, mas Pacheco é econômico em seus ataques ao Planalto – mesmo porque sua posição como chefe do Legislativo exige cooperação com o Executivo. As falas mais duras de Pacheco talvez tenham ficado mesmo para a convenção do PSD, quando foi efetivamente saudado como candidato da sigla: “Amor ao Brasil não é só colocar camisa brasileira e sair xingando o STF e ao Congresso. Amar o Brasil é respeitar o que é diferente”, disse, sem jamais citar o nome do atual presidente da República.
(Crédito: Pedro França/Agência Senado)