Ao fundar o PSD, uma década atrás, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab conseguiu situar a sigla nascente numa charneca ideológica. “Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro”, disse, como que indicando a quem se filiasse ao PSD o caminho do palácio de Hades, o limbo, um destino pouco memorável. Mas a Lusitana rodou e o cenário de falta de convicções desenhado por Kassab em 2010 deu lugar a um partido com figuras que hoje brilham na política nacional. Com força no Senado, o PSD fez o presidente da CPI da Covid, a comissão bafo que empareda o governo federal. O presidente, Omar Aziz, ex-governador de Amazonas e em primeiro mandato no Senado, recebeu elogios à esquerda e à direita pela condução inicial da CPI – especialmente quando disse ao relator Renan Calheiros (MDB) que não “era carcereiro” para mandar prender uma testemunha mentirosa. Nesta quinta (27), Aziz perdeu capital junto aos senadores governistas, que viram nas intervenções do presidente da CPI atuação em favor do governador paulista João Doria. Mas ganhou com a opinião pública ao ser citado desairosamente por Bolsonaro em sua live semanal horas depois. Aziz deve sair da CPI como figura de expressão nacional, maior do que entrou. (Créditos: Agência Senado)
Na mesma CPI da Covid, o senador baiano Otto Alencar é outro grande destaque entre os “independentes”. Médico, indispõe-se com as testemunhas que na CPI seguem a defender tratamento precoce, cloroquina e outros remédios proscritos pelo consenso científico para uso em doentes da Covid-19. Divergiu duramente da indicação como antiviral da hidroxicloroquina feita por Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina, na quarta (26). Alencar foi governador em exercício da Bahia, em 2002, substituindo César Borges (PFL, atual DEM) e vice-governador na gestão Jaques Wagner (PT) e está em seu primeiro mandato no Senado. O parlamentar acaba de apresentar projeto de lei que propõe repasse integral de aposentadorias e pensões a filhos ou tutores no caso de morte de pai e mãe por Covid-19. Na sustentação da PL, o político informa que dentre 450 mil vítimas fatais da doença no Brasil, 300 mil eram aposentados. (Créditos: Agência Senado)
Joia recém-apresentada pelo partido, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, é outro político de força regional que pode aspirar voos maiores. Aos 51 anos, está em seu terceiro termo à frente da prefeitura da Cidade Maravilhosa, tendo vencido em 2020, pelo DEM, o incumbente Marcelo Crivella por larga margem de votos – o que não parecia muito difícil, tamanho o desgaste do bispo e ex-ministro à frente da prefeitura do Rio. O movimento de Paes pode indicar o caminho do PSD para outros correligionários, como Rodrigo Maia, que também está de saída do DEM. Na cerimônia de filiação, em Brasília, Paes estava ao lado do presidente da OAB nacional, Felipe Santa Cruz, que foi apresentado como possível candidato a governador do Rio em 2022. Caso o nome de Santa Cruz seja confirmado, o PSD faria uma clara conversão à centro-esquerda, o que poderia significar palanque para Lula no Rio ano que vem (Crédito: Reprodução/Instagram)
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, foi reeleito em 2020 com uma votação maiúscula, com 63,36% dos votos. Sua independência do bolsonarismo nem sempre light do governador mineiro Romeu Zema (Novo), o caminhão de votos e seu papo reto fizeram do ex-dirigente do Atlético Mineiro um político de expressão nacional. Não se especula Kalil à frente de uma chapa presidencial, mas uma composição como vice está na mesa. Mais provável é que seja lançado à sucessão de Zema, em Minas. O problema é se desincompatibilizar da prefeitura com pouco mais de meio mandato cumprido. Ainda assim, numa entrevista ao televisivo Roda Viva, em dezembro passado, disse que aceitaria tentar o Planalto. “Se eles quiserem me carregar, é claro que eu vou”. E sobre Zema, que disse que ele, Kallil,“falava muito e não fazia nada”, devolveu com juros: “O que eu tenho para falar do governador de Minas é que ele não fala nada e não faz nada.” No ranking de popularidade digital da agência Quaest, ficou atrás apenas de Bolsonaro e Lula, numa medição recente, do começo de abril. Na ocasião, bateu forte no ministro do STF Kassio Nunes Marques, o único até aqui indicado por Bolsonaro à Corte, pela defesa jurídica da liberação de cultos religiosos e da abertura de templos e igrejas durante a pandemia.
(Créditos: Reprodução/TV Cultura)