Desde 2018, boa parte do fazer político se deslocou para
as redes sociais. Se não é possível publicar medidas
provisórias por Twitter ou vencer a resistência de um poder
por meios digitais, é verdade que diversos parlamentares
se elegeram por conta de sua grande influência digital. É o
caso da bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), deputada
que defende o Chefe do Executivo como se não houvesse
amanhã – e talvez não haja mesmo. Por ser canceriana
com ascendente em peixes, segundo a profissional que fez
seu mapa astral, ela estaria “condenada” a trabalhar com a
política – e, como diriam os chilenos, “asi es”. Zambelli
defende com ênfase suas crenças e é bastante fiel às
amizades e alianças feitas no campo profissional. Talvez
por isso não meça esforços para defender Jair Bolsonaro,
muitas vezes sem apresentar qualquer justificativa
plausível, além da afeição que sente pelo chefe do
Executivo. Em defesa do marido, coronel da PM que
ganhou o cargo de comandante da Força Nacional pelas
mãos de Bolsonaro, tretou com o presidente da CPI da
Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), o chamando de
“bunda gorda” e “imbecil”. Ele respondeu dedicando à
deputada a música Espanhola, de Flávio Venturini, uma
referência ao fato de Zambelli supostamente ter sido garota
de programa na Espanha. Eleita com 76 mil votos em
2018, acumulou mais de 6 milhões de seguidores nas
redes sociais, somando Twitter, Facebook e Instagram. Dos
270 projetos que apresentou até setembro deste ano,
aprovou exatos 25 — um bom número considerando a
média informal feita pela Câmara de 5 projetos aprovados
por parlamentar/ano. A deputada se considera escritora e
tem de fato um livro – um único – publicado: Não foi golpe –
os bastidores da luta nas ruas pelo impeachment de Dilma.
Para sobreviver, alguns políticos tradicionais perceberam,
após o aluvião digital de 2018, que era preciso ter
influência nas redes. Assim, o senador Humberto Costa
(PT-PE), com cerca de 1,3 milhão de seguidores somando
Facebook, Twitter e Instagram, acabou por se tornar um
dos mais ativos usuários do aparato virtual. No fim de
setembro, ele liderava o ranking de influência digital da
agência de comunicação FSB entre os senadores. Costa,
que é formado em jornalismo e também em medicina e
integra a CPI da Covid-19, está em seu segundo termo
como senador, tendo sido ainda deputado federal por um
mandato e antes deputado estadual em Pernambuco e
vereador no Recife. O parlamentar ainda foi ministro da
Saúde de Lula entre 2003 e 2005 e concorreu, sem
sucesso, à prefeitura de Recife e ao governo de
Pernambuco. No Twitter, Costa costuma publicar
compactos em vídeo de suas performances na CPI e
mantém fixado um encontro com Lula num assentamento
do MST em Pernambuco. Lá o ex-presidente plantou um
baobá, a árvore-símbolo da savana africana.
Desde junho passado, o deputado federal André Janones
(Avante-MG) vem dizendo que será o candidato do partido
à presidência da República. Em janeiro, ele conseguiu se
colocar como candidato à presidência da Câmara dos
Deputados, mas o resultado foi amargo: teve apenas três
votos e viu-se isolado no próprio partido, que fechou apoio
a Arthur Lira (PP-AL), o atual presidente da Casa. Janones
tem mania de grandeza e, dizem aliados, vence os outros
pelo cansaço. Chegou assim à Câmara, com expressivos
178 mil votos, candidato de primeira viagem que
convenceu o diretório local ao dizer que tinha mais apelo
que um vereador da capital mineira. Janones diminuiu sua
produtividade na Câmara ao longo dos anos: apresentou
283 projetos em 2019, 37 em 2020 e 23 em 2021.
Vice-líder do partido na Casa, é empresário e tem quase 10
milhões de seguidores nas redes sociais. Ali se sente muito
à vontade e chegou mesmo a enfrentar um processo
administrativo no Conselho de Ética da Câmara por ter
ofendido internautas em uma de suas postagens.
O senador goiano Jorge Kajuru (Podemos) também
costuma figurar no Top 10 do ranking de influência digital
da FSB, mas ela leva uma vantagem competitiva. Egresso
da TV aberta, e, mais do que isso, dos debates de futebol
old school, aqueles em que a polêmica vem antes da
informação acurada, Kajuru incorporou o local de
nascimento, a cidade paulista de Cajuru, a seu nome
social. Em primeiro mandato no Senado, o jornalista não é
“rookie” na política, tendo sido eleito vereador por Goiânia
em 2016. Dois anos antes, havia tentado uma cadeira na
Câmara Federal pelo PRP, sem sucesso. Na virada dos
anos 1990 para os anos 2000, foi implacável contra o então
governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e procurou,
na rádio K (antiga Clube, de que era o titular da
concessão), de Goiânia, expor casos de corrupção do
mandatário. Esse material mais tarde renderia um livro,
Dossiê K: uma história de corrupção e truculência, que
precedeu uma biografia que lançaria seis anos depois. Kajuru
mantém uma postura dúbia em relação a Bolsonaro. Ele foi um
dos senadores que foi ao STF pedir que a Corte exigisse o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a instalação da CPI da
Covid-19, mas antes conversou por telefone com Bolsonaro sobre
isso, como que a se justificar. E não teve pejo em gravar essa
conversa – Kajuru alega que sempre grava seus telefonemas – e
colocar os áudios disso nas redes sociais. Em suas postagens nas
redes, ele não dá bola para a etiqueta e abusa da CAIXA ALTA.