Nem o mais empedernido republicano imaginaria que o governo Joe Biden teria uma agenda tão… Bernie Sanders. A decisão de dar ao Estado um papel mais do que indutor na economia nos Estados Unidos, país-modelo do liberalismo, mudou paradigmas à direita e à esquerda em todo o mundo. Pobre partido Novo. De qualquer forma, no Brasil, candidatos – declarados ou não – às eleições de 2022 já pleiteiam a condição de “Biden brasileiro”. PODER Online tenta especular nesta lista a quem caberia a pecha, a despeito das grandes diferenças do sistema partidário dos dois países. O nome que mais tem surgido associado ao do presidente dos Estados Unidos é o do senador cearense Tasso Jereissati. Mas a aproximação parece ter mais a ver com a idade – Tasso terá 73 nas eleições do ano que vem – e com o fato de o cearense ser senador e ter uma longa carreira política. Mas o redivivo expoente do PSDB, também ex-governador do Ceará por três mandatos, o “presidenTasso”, como vem sendo vendido por apoiadores, é um oligarca, herdeiro de um conglomerado empresarial bilionário que faz de Biden, filho de um vendedor de carros usados, em comparação, um proletário. Em entrevista a PODER (disponível no cardápio desta homepage), ele lamenta o atual momento político e diz advogar pelo parlamentarismo: “Estamos vivendo um período de retrocesso com a destruição da vida partidária. Veja o que aconteceu nas eleições na Câmara e no Senado. Foi uma captura de votos individual, passando por cima de partidos, sem negociação, uma trituração partidária.”
(Crédito: Agência Brasil)
Com apenas dois anos vividos no Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) passeou na eleição para a presidência da Casa, em fevereiro, unindo correntes políticas antagônicas. Ele parece ter um traquejo ancestral, apesar da magra vida parlamentar – um mandato como deputado federal –, e isso lhe conferiria direito ao “bidenismo”. O advogado criminalista parece trazer consigo, com efeito, as “eras geológicas de sonho”, como dizia Carlos Drummond, de Minas Gerais, onde cresceu e parece ter identificação espiritual desde sempre. Pacheco é mestre numa ciência levada ao estado da arte justamente nas Gerais, que é o de buscar o entendimento, ainda que para isso precise fazer malabarismos retóricos – ou, no popular, falar, falar e nada dizer. Em entrevista a PODER, ele referendou a formação: “A política mineira sempre foi de pacificação, busca de união e unidade, de respeito, de conciliação, de moderação, de equilíbrio e de muita racionalidade. A política não deve ser movida por arroubos do momento ou por radicalismos”. Aos 44 anos, ele parece ser o único brasileiro a seguir à risca o famoso conselho dado aos jovens por Nelson Rodrigues: “Envelheçam”.
(Crédito: Agência Brasil)
Jair Bolsonaro conseguiu fazer um pequeno milagre involuntário ao resgatar, por comparação, uma certa nostalgia do mandato de Michel Temer. Com duas décadas de vida parlamentar e presidente mais longevo da Câmara dos Deputados depois de Rodrigo Maia, Temer volta e meia é apontado como uma solução de conciliação e “normalidade” diante da repetição do que a mídia mais conservadora chama de “fantasma da polarização” entre Bolsonaro e o PT (ou Lula). Octogenário, Temer parece estar menos interessado na vida institucional comezinha do que nos seus fólios, mas o que uma convocação cívica, uma aclamação, não seria capaz de fazer? Mas a agenda de estado máximo de Biden parece bastante distante dos tempos do “presidente Michel”, como a ele se referia Rodrigo Maia. Temer foi responsável por implementar medidas de cunho ultraliberal, como a PEC do Teto dos Gastos e a reforma trabalhista. Capa da PODER de dezembro, afirmou que “não teve frustrações” em seu curto mandato presidencial, aduzindo que isso “não significa que não possa ter cometido erros”.
(Crédito: Agência Brasil)
Belzebu para grande parte do setor empresarial brasileiro e para grandes seções da classe média, Lula reapareceu nas especulações eleitorais em grande estilo, liderando as pesquisas desde que teve seus direitos políticos (provisoriamente) restabelecidos pelo STF. Sua reentrada na corrida ao Planalto, em março, teve como pedra fundamental uma entrevista coletiva em que ele deixou muito clara sua vontade de cavalgar o campo ideológico mais ao centro. Fez elogios a seu vice-presidente, José Alencar, que veio do setor empresarial. “Foi a primeira vez nesse país que fizemos uma aliança entre o capital e o trabalho, para governar esse país”, disse. Lula fez um recente giro por Brasília em que teve encontros à esquerda e (nem tanto) à direita, entrevistando-se com o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) e com o ex-presidente José Sarney, mas tomou perdido de Rodrigo Pacheco. Junto com Ciro Gomes, Lula é o nome mais identificado com a agenda do Estado indutor implementado por Joe Biden entre os pleiteantes de 2022. Em seu Twitter, em 5 de maio, saudou a decisão do governo Biden de apoiar a suspensão das patentes de vacinas. “A saúde não pode ser mercantilizada. A humanidade vai vencer esse vírus”, escreveu o ex-presidente. (Crédito: Divulgação/PT)