Um dos mais famosos cantores e compositores de salsa (e de latin jazz) do mundo, o panamenho Rubén Blades, 72 anos, concorreu à presidência de seu país pelo movimento Papa Egoró (“Mãe Terra”) em 1994, mas os 17% de votos que angariou não foram suficientes para levá-lo ao poder. Em 2019, chegou a considerar uma nova candidatura, mas desistiu na undécima hora. Militante de esquerda, ator e advogado, Blades é possivelmente a figura mais proeminente do país de 4 milhões de habitantes. Em reveladora entrevista recente ao El País, ele destoou de certo pensamento ortodoxo da esquerda latino-americana ao lastimar Nicolas Maduro e Daniel Ortega (“tiranos, medíocres”) e se recusar a atribuir os erros do campo progressista latino ao colonialismo violento e aos “gringos”. A travessia de Blades já estava desenhada, pode-se dizer, muito tempo atrás. Em 1968, Blades escreveu Pablo Pueblo, cujas duas primeiras estrofes entregam: “Regressa um homem em silêncio / de seu trabalho cansado (…) espera-o o bairro de sempre/ com o farol na esquina/ O lixo ali em frente / e o barulho da cantina”. Em 1978, Blades e o parça Willie Colón lançaram o álbum Siembra, que vendeu 25 milhões de cópias.
(Casa de América)
Prêmio Nobel de Literatura em 2010, o peruano Mario Vargas Llosa concorreu a presidente em 1990, perdendo para o azarão Alberto Fujimori, que controlaria o país por dez anos e acabaria condenado e preso por violação dos direitos humanos e mortes ocorridas durante sua gestão. Embora marxista na juventude, Vargas Llosa abraçou o neoliberalismo, corrente de que tem dificuldade de desapegar. Ao comentar as muito recentes eleições peruanas, mas ainda sem conhecer seu resultado final, ele anteviu paralelos entre o futuro governo de Pedro Castillo, que assume nesta quarta (28), e aquele que marcou o “socialismo do século 21” de Hugo Chávez, que ele sintetiza como de “emigração em massa de 5 milhões de venezuelanos para não morrerem de fome”. No mesmo artigo, ele diz não ver “possibilidades de salvar a democracia” com o atual presidente.
(Fronteiras do Pensamento/Luiz Munhoz/Reprodução)
Em algum momento da campanha presidencial norte-americana passada, o rapper Kanye West acreditou que poderia ser ele a pessoa certa para substituir Donald Trump, de quem o artista sempre foi apoiador. Seu discurso não destoou da cartilha conservadora, sublinhando temas como aborto e religião. Mais tarde elaborou uma plataforma de 10 pontos, com certa ênfase em meio ambiente e cultura, uma política externa anti-intervencionista e ainda reformas no sistema legal e no policiamento. A egotrip de West resultou em uma candidatura confusa e organizada às pressas, que talvez apenas tenha servido para provar que é muito fácil queimar dinheiro nos Estados Unidos. A fortuna do rapper, em 2020, foi estimada em US$ 1 bi, embora o próprio West tenha dito que o valor havia sido subestimado. Fato é que West não dispunha de eleitores – na verdade, ele não dispunha de um mínima ideia do que estava fazendo. E jogou US$ 10 mi de seu patrimônio pessoal no ralo.
(Reprodução)
Kanye West não deve ter a menor ideia de quem é Silvio Santos, mas a aventura presidencial do Homem Sorriso poderia servir como benchmark internacional negativo de uma campanha majoritária. Assim como o rapper, o apresentador embarcou na corrida de 1989, a primeira eleição presidencial do país desde o ciclo militar, na undécima hora, tentando cavar espaço entre pesos pesados da política como Lula, Leonel Brizola e Mário Covas e o governador alagoano da vez, Fernando Collor. Silvio tentou se viabilizar pelo PFL (que geraria o DEM), mas o partido estava comprometido com Aureliano Chaves, que havia sido governador mineiro e vice de João Figueiredo. Assim, tentou uma manobra grosseira, assumindo o lugar de Armando Corrêa, candidato do minúsculo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), que, curiosamente, seguiria com seu nome na cédula – a urna eletrônica ainda estava por ser conhecida. Por unanimidade, o TSE cortou o barato de Silvio a poucos dias da eleição e sustou suas pretensões eleitorais.
(Reprodução)