O Centrão, agremiação adesista suprapartidária que personifica os velhos hábitos políticos, o toma-lá-dá-cá do presidencialismo de cooptação brasileiro, dá as cartas na atual presidência, com um de seus capitães no principal ministério do Planalto: a Casa Civil. Ciro Nogueira, senador piauiense do PP, não é fruto de geração espontânea. Seu pai foi deputado federal por dois mandatos, exatamente como seu tio. Formado em Direito pela PUC-RJ, Ciro começou cedo, elegendo-se deputado federal pelo PFL aos 26 anos, para o mandato 1995-1998. O PFL havia chegado ao poder na coligação com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, e Ciro votou com o governo pela PEC da reeleição, pela reforma da Previdência e pela Lei de Responsabilidade Fiscal (que evolução para a defesa entusiasmada da PEC Kamikaze, ora em aprovação no Congresso). Desde que está na carreira política, o piauiense se reelege sucessivamente, e agora cumpre seu segundo mandato como senador (está licenciado). Fiel aos costumes da aristocracia nordestina, Ciro fez de sua mãe suplente no Senado e é genro de ex-governador biônico e ex-senador do Piauí. Dias antes de assumir a Casa Civil de Bolsonaro, uma entrevista em que dizia preferir Lula a Bolsonaro veio a lume. Não que alguém ficasse surpreso. (Crédito: Marcos Oliveira/Agencia Senado)
Partidos hoje não tão nanicos costumam ser chamados de legendas de aluguel por acolher em eleições majoritárias candidatos que jamais foram a eles filiados. Tampouco se orientam por ideologia, tendendo a apoiar governos de espectros políticos distintos. O “conceito” é aderir e colher as benesses de ser situação. É o caso do PL, comandado pelo paulistano Valdemar Costa Neto. O homem que empresta oficialmente agora sua legenda para Bolsonaro usar como plataforma de sua nova aventura eleitoral, desta vez como incumbente, é useiro e vezeiro em participar da “base”. Foi assim no governo Lula, em que acabou condenado no escândalo do “mensalão” – chegou a ser preso. Valdemar hoje é réu por peculato, corrupção passiva e fraude à licitação em razão de suposto superfaturamento da Ferrovia Norte-Sul, mas essa é outra história. Filho de outro Valdemar, ex-prefeito de Mogi das Cruzes (SP) por três mandatos, o Valdemar da hora tem um currículo que perpassa a redemocratização brasileira. Egresso da Arena e de seu sucedâneo PDS, votou pelo impeachment de Collor, levou Lilian Ramos ao camarote de Carnaval, em que, sem calcinha, encantou o então presidente Itamar Franco, e conspirou contra o ex-ministro das Comunicações Sérgio Mota, figura central do primeiro governo FHC. (Crédito: Reprodução/PL)
Aparentemente apenas a imprensa se surpreendeu com a vitória acachapante de Arthur Lira nas eleições para a presidência da Câmara neste ano. O deputado alagoano, chamado “rei do Centrão”, tem, como não poderia deixar de ser, estirpe. Seu pai é Benedito de Lira, três vezes deputado federal e uma vez senador, atual prefeito de Barra de São Miguel, em Alagoas. Arthur está em seu terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal e soube como ninguém tirar proveito da principal sistemática de atendimento aos interesses paroquiais de seus colegas – o que lhe vale capacidade de articulação e vitória em votações de PECs, que exigem ⅗ do plenário. A sistemática, o instrumento, é a tal emenda do relator, judicializado agora pelo STF por conta da falta de transparência. Não se sabe quem são os deputados atendidos com as benesses acertadas diretamente na Casa Civil do Planalto – onde está o aliado Ciro Nogueira. O jornal O Estado de S.Paulo mostrou que boa parte do dinheiro carreado via emendas do relator se transforma em tratores – um pedido comum de prefeitos de cidades pequenas, base que energiza centenas de deputados, e por conseguinte, Lira. Muitos desses tratores foram superfaturados, o que valeu ao escândalo das emendas do relator – ou do “Orçamento Secreto”, seu outro nome – o apelido “Tratorão”. O aumentativo, como se sabe, é sempre usado como sufixo nos inúmeros escândalos políticos nacionais. Via emendas do relator, o pai de Lira recebeu em sua cidade de 8 400 habitantes R$ 3,8 mi, conforme revelou o jornal O Globo.
(Créditos: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)