A perpetuação de congressistas nos parlamentos brasileiros é uma das faces do velho patrimonialismo brasileiro. Dinastias que perduram décadas, e, em ao menos um caso, séculos, se sucedem, fazendo com que gerações e gerações de uma mesma família assumam posições no Senado, na Câmara Federal e nas assembleias legislativas estaduais – além de cargos majoritários. No Congresso, uma família que há tempos não larga o osso é a de Fernando Coelho Filho (UB-PE), deputado em seu quinto mandato consecutivo, que se licenciou da Câmara apenas para assumir o ministério de Minas e Energia no governo Michel Temer, em 2016. Fernandinho, ou Coelhinho, é filho do ex-senador Fernando Bezerra Coelho, que foi líder do governo Bolsonaro no Senado, e tem em comum com o pai muito mais que o sobrenome: os dois foram ministros de Minas e Energia – o pai, o ex-bolsonarista, de Dilma Rousseff, numa demonstração cabal de que ideologia não é exatamente o que move a família. Há ainda os irmãos de Coelhinho, Miguel Coelho, ex-prefeito de Petrolina, renunciou ao cargo para concorrer ao governo de Pernambuco — ficou a ver navios; o outro, Augusto Coelho, o caçula, foi deputado estadual em Pernambuco. O patriarca da família é Nilo Coelho (1920-1983), ex-governador de Pernambuco e ex-senador, que se tornou um dos empresários mais poderosos de Petrolina e de todo o estado de Pernambuco.(Reprodução)
Mesmo em fases anteriores à República, nenhum outro grupo político-familiar é tão longevo na ocupação contínua de espaços do poder em solo potiguar quanto os Alves, hoje representados por Walter Alves (MDB-RN) na Câmara dos Deputados. Walter é filho de Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Casa, que conseguiu a façanha de se manter na Câmara por onze mandatos consecutivos, de 1971 a 2015. Ex-ministro do Turismo nos governos Dilma e Temer, se viu enredado na Lava Jato e foi um dos primeiros ministros de Michel Temer a cair por conta da Operação. Walter, agora em seu segundo mandato, ostenta currículo bem mais modesto. Discursou apenas duas vezes no plenário da Câmara em 2021 e não assina projeto de relevo. O sobrenome, contudo, o empurra, e chegou mesmo a ser citado pelo ex-presidente Lula (PT) para compor chapa com a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), em sua provável candidatura à reeleição em 2022. A dinastia Alves vem de longe. Walter é neto do ex-governador potiguar e ex-deputado federal Aluísio Alves, que foi também ministro da Administração de José Sarney; na família ainda tiveram importância política o ex-senador Agnelo Alves, irmão de Aluísio e pai do ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves; e Garibaldi Filho, primo de Henrique Alves e ex-governador do Rio Grande do Norte.(Câmara dos Deputados)
Menos longeva, a dinastia gaúcha Covatti tem no deputado federal Covatti Filho (PP-RS) seu representante atual na Câmara dos Deputados. Já está em seu terceiro mandato consecutivo. Seu pai, o advogado Vilson Covatti, passou dois termos na Casa, entre 2007 e 2015 – antes disso foi deputado estadual do Rio Grande do Sul e vereador em Frederico Westphalen, cidade onde cresceu e onde nasceram sua mulher e filhos. Diferentemente do que costuma acontecer na Câmara Federal, as pautas de pai e filho não se confundiram, com o júnior se tornando nome destacado do agrobusiness. Covatti Filho participou como membro titular da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e chegou a se licenciar de seu mandato para assumir a secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul no início do primeiro governo Eduardo Leite. Atualmente, é membro titular da CCJ da Câmara Federal.
Ele está em seu segundo mandato como deputado federal por Minas Gerais, mas Lafayette Doorgal de Andrada, vice-líder do Republicanos, vem de uma linhagem parlamentar bicentenária. Tudo começou com José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o famoso patriarca da Independência. Mais recentemente, o pai de Lafayette, Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), exerceu 10 mandatos consecutivos na Câmara e representou a quinta geração de uma família que já teve outros 14 representantes no Parlamento brasileiro em quase 200 anos. Morreu no início do ano, aos 90 anos, de Covid-19. O atual representante da dinastia foi eleito com 103 mil votos depois de cumprir três mandatos na Assembleia Legislativa de seu estado. No ano passado, arriscou-se candidato à prefeitura de BH, mas comeu poeira de Alexandre Kalil (PSD), que concorria à reeleição. (Câmara dos Deputados)