2 conflitos mundiais latentes e 2 guerras muito presentes
2 conflitos mundiais latentes e 2 guerras muito presentes
24/janeiro/2022 por Lincoln
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A julgar pelas notícias do fim de semana, a invasão da Ucrânia pelas forças russas estacionadas na fronteira dos dois países é mais do que iminente. No sábado (22), os Estados Unidos instaram os cidadãos norte-americanos que moram na Ucrânia, familiares de diplomatas etc., a deixar o país. Logo em seguida, outro comunicado oficial sugeriu que viagens à Rússia deveriam ser evitadas; o movimento ocorreu em sincronia com manifestação de Liz Truss, ministra britânica das Relações Exteriores, que, citando a inteligência de seu país, disse que o presidente russo, Vladimir Putin, pretende usar o líder oposicionista ucraniano, Ievguêni Muraiev, como fantoche para uma invasão branca do país. O plano tem como objetivo a derrubada do presidente da Ucrânia, Volodmyr Zelenski, mas não informa se os estimados 100 mil combatentes russos ingressariam no país. A exibição de força russa é um recado para os países da Ocidente. Putin não quer forças da Otan, a aliança militar de diversos países europeus e Estados Unidos, nascida nos tempos da Guerra Fria, nos limites de seu território, e vem pressionando a Ucrânia – assim como a Geórgia – a não confirmar seu ingresso na organização. Também procura mostrar que seu país ainda é influente no tabuleiro geopolítico mundial, num recado de força também para o público interno saudoso ou não dos tempos da grande Mãe Rússia.
(Crédito: Reprodução)
Se a desproporção de forças no possível conflito ucraniano é notável, que dizer da pressão que a China exerce sobre Taiwan? Nem se trata aqui tanto da disparidade bélica, que já é gigante, mas do poderio econômico da China, segunda maior potência do mundo, cuja importância comercial faz com que retaliações de outros países contra ela por conta de ações expansionistas sejam improváveis. A República Popular da China (continental) vê a ilha de Taiwan como parte de seu território – o líder Xi Jingping usa a expressão “reunificação” –, enquanto a República da China (Taiwan) tenta se afirmar como nação independente, com Constituição própria. Fundado a partir do êxodo de cardeais do Partido Nacionalista, o Kuomintang, da China continental em 1949, após a vitória do PC de Mao Tse-Tung, Taiwan tem hoje o reconhecimento como país independente de apenas 13 nações. As relações entre as duas Chinas, segundo autoridades taiwanesas, chegaram ao pior ponto em 40 anos. Com tudo isso, dois terços dos cerca de 24 milhões de habitantes de Taiwan se dizem razoavelmente tranquilos em relação a um possível conflito. Quarenta por cento discordam em parte de que ele venha a ocorrer e 23,7% discordam absolutamente; por outro lado, os habitantes cada vez mais se declaram unicamente como taiwaneses: mais de 60% se dizem assim, para cerca de 30% que se veem ao mesmo tempo como taiwaneses e chineses; esses valores já foram os mesmos, em torno de 45%, há 15 anos. (Crédito: UN Photo/Jean-Marc Ferré)
Aos olhos dos ocidentais, as guerras que pipocam na África, muitas vezes por motivações étnicas, são capítulos rotineiros na história de um continente problemático, cujos países conquistaram sua independência a não mais do que duas ou três gerações. Pouca importância se dá para conflitos como o que atualmente abala a Etiópia, segundo país mais populoso do continente, com 115 milhões de habitantes. A guerra do Tigray, região ao norte do país, na fronteira com a Eritreia, ganhou tintas de conflito nacional quando guerrilheiros separatistas do Tigray avançaram em direção à capital, Addis Ababa, levando com isso a mobilização de parte da população. Os etíopes foram estimulados pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed a pegar em armas – como viria a fazer o heroi esportivo nacional e duas vezes campeão olímpico do atletismo Haile Gebrselassie. A disposição para o confronto revelada por Ahmed colocou em dúvida o prêmio Nobel da Paz recebido por ele em 2019, por seus esforços em encerrar a guerra de duas décadas de seu país com a Eritreia. Em novembro passado, a ONU considerou que 9,4 milhões de pessoas na região de conflito, no norte da Etiópia, necessitavam de ajuda alimentar. Há 25 mil pessoas vivendo em dois campos para refugiados no Tigray, segundo a organização.
(Crédito: Reprodução)
Conflitos intermináveis, que se alongam por décadas, tendem a perder o interesse da audiência pública; e as vítimas desses conflitos, a empatia do resto do mundo. É o que se passa na Síria, que já vai para onze anos de guerra civil. A população síria, de 18 milhões de habitantes, sofreu demasiadamente: 350 mil pessoas morreram, 6,7 milhões migraram dentro do país e outros 5,5 milhões refugiaram-se em outras nações. Muitas cidades sírias ainda hoje são pouco mais do que ruínas. O pouco popular presidente Bashar Assad, com apoio da Rússia e do Irã, conseguiu se manter no poder desde a eclosão da guerra, mas hoje enfrenta a guerrilha islâmica em Idlib, no noroeste do país, e enorme oposição ao longo do território. Em mais um lance emblemático, no fim do ano passado, sírios menos despossuídos se juntaram aos milhares no aeroporto de Damasco a fim de migrar para a Bielorússia, que, em clara retaliação à Comunidade Europeia, abriu suas fronteiras para os sírios. (Crédito: MDFR)