Sob influência da Revolução Russa de 1917, o Partido Comunista Chinês (PCC) celebra seu centenário nesta semana em pleno vigor. Criado em 1921, conseguiu estabelecer, apenas dez anos após sua fundação, uma espécie de república soviética chinesa no sul do país, logo desbaratada. Uma sorte de “coluna Prestes” teve lugar em seguida, e a Longa Marcha de 1934-35 para Yan’an, no norte do território, revelou a destacada liderança de Mao Tsé Tung. O ataque japonês à China, combatido com afinco pelos comunistas, começou a forjar um partido forte, capaz de mobilizar camponeses, operários, seções da classe média e uma pequena burguesia. A derrocada do líder chinês Chiang Kai-shek, minado por acusações de corrupção de seu grupo político, o Kuommitang, pelo custo dos alimentos e uma perda de terreno entre a população para os comunistas, acabou levando à ascensão final do PCC em 1949, ano da fundação da chamada República Popular da China. Desde esse ano o PCC comanda o país, sem interrupções. (Diário do Povo)
Mao Tsé-Tung liderou o país de 1949 a 1976, ano de sua morte, e a China, nesse entretanto, enfrentou enormes mudanças motivadas pela economia planejada que custou dezenas de milhões de vidas. O chamado Grande Salto Adiante (1958-1960), uma tentativa de transformação rápida da matriz econômica de um país essencialmente agrário, partiu do estabelecimento de comunas em que pequenas siderúrgicas se destacavam. Mas sem ajuda soviética e incapaz de gerar um estoque alimentar enquanto tentava viver sua desejada transformação industrial, a China impingiu à sua população a fome. Rigores climáticas ajudaram a fazer daqueles anos talvez os mais trágicos de toda a história do país, com estimadas 20 milhões de vidas perdidas.
A ascensão de Deng Xiaoping com a morte de Mao deu fim à Revolução Cultural, um período de reavivamento dos valores do comunismo chinês e do uso intensivo da força pelo Exército Vermelho contra qualquer dissidência e oposição ao PCC. Deng estimulou a modernização da economia do país ao estabelecer como um dos pilares o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. A repressão e o clamor patriótico – ou revolucionário – foram relaxados, e Deng deu aos agricultores controle de sua própria produção e acesso aos lucros, algo que também seria feito em algumas atividades urbanas. Privatização de estatais e demissões em massa também marcaram seus anos à frente do partido. Foi sob Deng que também se estabeleceu o controle de natalidade estatal – a proibição do segundo filho só seria abrandada em 2015. Sua liderança foi trincada com o massacre da praça da Paz Celestial, em Pequim, em junho de 1989, em que o PCC achou por bem reprimir estudantes que protestavam contra o governo enquanto o mundo comunista se preparava para assistir o início de seu próprio colapso, meses depois, em Berlim.
Estar à frente de um país por 72 anos, sem eleições durante esse período, não faz do PCC o mais longevo dos partidos comunistas mundiais no poder. É, contudo, o mais poderoso, dada a pujança econômica chinesa conquistada com Xi Jinping, no poder desde 2012 – e oficialmente como presidente um ano depois. Xi eliminou o limite de duas reconduções ao cargo presidencial, centralizou o poder e estabeleceu um rigoroso controle cibernético, com direito a reconhecimento facial nas ruas e censura às redes sociais, trazendo o Estado ainda mais para o dia a dia dos chineses.
A enorme ascensão social produzida pela industrialização e o desenvolvimento tecnológico chineses dos últimos 15 anos permitiu a Xi estimular um culto à sua imagem digno dos tempos de Mao. Nos últimos meses passou a tolher lideranças empresariais que ganharam destaque ao redor do mundo, como Jack Ma, do Alibaba. Para a revista inglesa The Economist, uma das razões de o PCC chegar forte aos 100 anos, a despeito do torniquete cada vez mais apertado pelo Estado, é a capacidade de o partido entender as demandas da população. O periódico menciona o fim de taxas para o produtor rural e a institução de um sistema previdenciário. “Os benefícios não são abundantes, mas são apreciados”, diz a revista.
(Diário do Povo)