A POESIA DA COR

Walter Firmo em sua sala, com a janela para o bairro da Tijuca e o morro da Mangueira

Texto e Fotos Luís Costa

“Está vendo aquele morro?”, pergunta o fotógrafo Walter Firmo da janela do nono andar de um prédio no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro. “É o morro da Mangueira, de Cartola, Jamelão, Clementina e outros poetas”, responde ele mesmo.

O coração suburbano de Firmo, nascido em 1937 no bairro vizinho de São Cristóvão, encontrou naquela paisagem um alento. “Aqui eu me refaço todo dia”, diz um dos mais importantes fotógrafos do país, que começou a carreira no extinto jornal Última Hora, em 1955. O olhar de Firmo – que capturou dos poetas da Mangueira a figuras negras dos subúrbios cariocas e das periferias do Brasil –, foi celebrado em exposição panorâmica pelo Instituto Moreira Salles (IMS) em São Paulo. Agora, a mostra está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, onde fica até 27 de março do ano que vem.

quadros tropicais de artistas brasileiros, como um cajueiro de Vatenor de Oliveira

Um exímio fotógrafo da cor, da policromia de um Brasil vibrante, Firmo mantém nas paredes de sua sala tons que reafirmam o pendor para a exuberância da luz. “A gente vive num país tropical. Se eu morasse na Islândia, fotografaria em preto e branco”, diverte-se. “O Brasil é um país que tem uma força extrema do sol batendo na gente e perpetua essa guloseima que se chama cor, que dá prazer, gosto visual”, diz Firmo, que cita o amigo e fotógrafo americano David Zingg como um de seus professores nos caminhos da cor.

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Mas é no quarto que Firmo passa a maior parte do tempo, entre a coleção de livros, o oratório de Nossa Senhora da Conceição, uma velha cadeira de balanço e uma coleção de chapéus. Foi com o pai, um “garboso negro”, que se vestia de linho branco e chapéu panamá, que ele tomou o gosto pelo acessório.

Firmo é um andarilho. Não usa estúdio. Prefere, com os pés na calçada e agora com a câmera do celular, encontrar nas ruas os personagens e as paisagens da cidade. “O celular é o meu caderno de anotações para não me deixar morrer como poeta da fotografia”, revela o menino criado nos subúrbios do Rio que, ainda criança, tomou como um pai um navio para Recife e começou a explorar um mundo que antes só imaginava. “Foi lá que eu tive contato com a liberdade, andando descalço pelas ruas. Nessa liberdade, toda a poesia se fez, na relação de um homem que está solto na vida.”

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