POR RENATO NOGUERA
O que vem à cabeça com a palavra “griot”, o que esse termo significa? Sua origem tem algumas versões e eu vou destacar uma das mais conhecidas – e que está entre as minhas preferidas. Nesse caso, “griot” indica a variação de uma palavra da língua Edo no oeste africano, que foi afrancesada e registrada pelo missionário católico Alexis de Saint Lô pela primeira vez em 1637, durante o período em que viveu na África.
Griot é uma função social que não existe em todo o continente africano. Ela é encontrada exclusivamente em povos da África ocidental como Bambara, Soninqué, Mandinga, Dogon, Dagara, Fula, Senufo, Peul, Wolof, den-tre outros. Portanto, no continente africano, nós só podemos encontrar griottes (mulheres) e griots (homens) em alguns países: Benin, Burkina Fasso, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Gui-né, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, São Tomé e Príncipe. Senegal, Ser-ra Leoa e Togo. No contexto da diáspora africana, especialmente em países da América que foram o destino de povos africanos durante o período intenso de escravização que durou do século 16 até o 19, a ascendência griot é uma realidade. Nesse contexto, a confirmação da condição de griot pode ser feita por meio de pesquisas históricas via documentos e de testes de DNA.
Eu sou de uma família gueroual, onde a história já estava na ponta da língua do meu avô materno e que foi confirmada com o rastreio da ancestralidade por meio de algumas ferramentas científicas. Além do nascimento, é pre-ciso aprender a tradição ancestral e a formação “completa” dura 21 anos. No caso dos homens, eles também precisam passar pelo rito da circuncisão ainda na infância. Sem isso, eles não têm autorização para atuar como griots.
De maneira geral, o termo “griot” é usado de modo ampliado para caracterizar pessoas negras (pretas e pardas) que valorizam a ancestralidade com a contação de histórias. A atividade griot não se reduz à contação de histórias, mas inclui reportagem de guerra, diplomacia, canto, dança, teatro, ensino, tradução, filosofia, história, dentre outros, que envolvam costumes e tradições ancestrais.Do ponto de vista formal, para ser griot é preciso nascer em uma família djéli ou gueroual. Djélis carregam sobrenomes como Kouyaté, Diabaté e Sissoko, por exemplo, e historicamente atuavam em torno de famílias reais ou ligados à gestão política de uma sociedade. Gueroual é um nome de famílias que realizam atividades como guardiãs do saber ancestral junto ao povo.
Portanto, o termo griot pode ser entendido como um conjunto de atividades, uma tradição exclusiva do oeste africano que , no contexto da diáspora, tem sido usado para descrever todas as práticas culturais que visam manter viva a narrativa ancestral da África ocidental remontando ao Reino do Mali.
Renato Noguera possui formação familiar griot, é doutor em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e coordenador do Grupo de Pesquisas Afroperspectivas, Saberes e Infâncias