VOCÊ E SEU BARCO

BETANIA TANURE*

“Navegar é preciso, viver não é preciso.” Convido você, leitor, a embarcar comigo nesta reflexão sobre você, sobre sua empresa, sobre sua vida.

Ventos inesperados como os da pandemia contribuem para uma situação instável para as pessoas e para a empresa: 61% do tempo de trabalho dos executivos brasileiros não agregam valor ao negócio. Terrível, não? Esse é o dado de pesquisa que fizemos na BTA em junho deste ano. Um efeito disso vai além do resultado empresarial: a sensação de que se trabalha, trabalha, trabalha e não se sente produtivo, o que aumenta o grau de insatisfação e infelicidade pessoal.

Como sair dessa armadilha pantanosa? A primeira atitude é distinguir as suas competências reais daquelas que, às vezes inebriado pelo poder, você imagina ter. Há três dimensões de competência: a objetiva, a subjetiva e a política. Elas se manifestam individualmente, mas “transbordam” para a equipe e para a cultura da organização. A objetiva é a mais presente: nela estão 68% dos executivos, enquanto apenas 15% estão na subjetiva. Aquele que integra as duas primeiras dimensões e agrega a elas a de caráter político (atenção, não falo de politicagem!) pertence aos 7% de dirigentes, não importa a posição hierárquica. Ele pode ir além, trabalhar a sua competência política de modo a transformar positivamente o seu entorno, a sociedade, a realidade do seu país e tornar-se um dirigente estadista, dimensão que o Brasil tanto precisa atingir. Nas empresas, apenas 5% dos dirigentes a alcançaram. Quanto aos 10% que completariam o quadro das três dimensões, pasme!: nesse grupo não se reconhece nem competência objetiva, nem subjetiva, nem política.

Se você precisa mudar, ou quer ser ainda melhor, olhe-se no espelho, sem véu, e mãos à obra! Em um mundo que vive crises radicais e complexas, não é possível ser um superdirigente o tempo todo, mas pode-se estar em uma superequipe. Nela é possível revezar as competências, que se complementam. Afinal, ninguém é perfeito, mas uma equipe pode ser!

Em que águas culturais o seu barco navega? Águas autoritárias, como 65% das empresas brasileiras, que se dizem abertas mas não são? Águas relacionais, como a grande maioria, onde o benefício de tocar a alma e o coração das pessoas se contrapõe à falta do feedback assertivo, da meritocracia, da distinção entre profissional e pessoal? Águas flexíveis, atributo cultural fundamental em mares instáveis, que por vezes extrapola para a indisciplina, face sombria da flexibilidade.

Não há porto seguro, vivemos uma era de incertezas. Cuidado para não se encantar magicamente com o metaverso e fugir da realidade. O fio terra são os princípios e o propósito claros e compartilhados, estrela guia nos momentos em que a incerteza turva a clareza sobre o futuro.

Estamos todos no mesmo barco. A desunião, a raiva e a explosão, tão comuns em nosso querido Brasil de hoje, não nos ajudam a chegar a um bom porto. Saber navegar também contra o fluxo natural é característica chave do líder.

Esses são os principais temas do nosso novo livro, Você e Seu Barco, lançado neste mês de agosto. É preciso navegar!

Bem-vindo a bordo! Embarque conosco e tenha uma boa viagem!

 

*Betania Tanure é professora e consultora da Betania Tanure Associados (BTA). Atua na área de gestão, cultura empresarial e formação de equipes de alta performance