POR ANDREA BISKER*
Desde que decidi ser consultora de tendências e inovação, 25 anos atrás, durmo e acordo com o mesmo questionamento: será que estou deixando algo importante passar? Tirando um pico de ansiedade aqui, outro ali, posso dizer que amo o que escolhi fazer: ajudar empresas na tomada de decisões estratégicas. São escolhas definidoras, do ponto de vista da criação de novos produtos e serviços, de posicionamento, enfim, de futuro.
O futuro não acontece de uma hora pra outra. O futuro já circula entre nós, como uma poeira dispersa em que um grão isolado parece não ter nada a ver com o outro. Mas basta conectar os pontos. E o único jeito de conseguir isso é fazendo uma pausa. Neste mundo tão barulhento e veloz, silenciar os ruídos internos e externos tem sido uma tarefa tão difícil quanto essencial. Como escreveu Nietzsche, em Crepúsculo dos Ídolos, “habituar o olho ao descanso, à paciência, ao deixa-aproximar-sede-si”. Muitas vezes é no vazio, no tédio, que estão os insights. Aquele momento raro em que se tem a chance de reavaliar crenças e paradigmas, olhando para tudo com menos certeza. Livre dos vieses, nascem novas formas de ver o mundo – e a gente dá um passo na direção da inovação.
Dia desses Becky Korich, dramaturga e cronista, publicou na Folha de S.Paulo um texto belíssimo sobre a fobia coletiva que temos vivido: a necessidade de preencher todos os espaços com estímulos e telas, ignorando a importância do vácuo. Uma preocupante falta de intimidade com a gente mesmo – mas que pode ser revertida. Lembrei da declaração do pensador contemporâneo e escritor israelense Yuval Harari, em sua obra Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, quando ele escreve que o ser humano passou a ter um poder gigantesco nas mãos graças à tecnologia, e não necessariamente sabemos lidar com isso.
Quem levou a pausa a sério – virou até livro – foi Rachael O’Meara, autora do best-seller Pausa: o Poder Transformador de Reservar um Tempo Para Si Mesmo (Benvirá, 2019). Desgastada física e emocionalmente por conta da vida de executiva em uma gigante da tecnologia, ela se beneficiou da política de período sabático da empresa e parou tudo. Nas páginas, ela divide a experiência, traz evidências científicas, estudos sobre o efeito positivo do descanso e elenca dicas práticas para quem quer planejar um tempo off.
Se você tem interesse por isso – no comando da sua empresa, no conselho do qual faz parte ou como líder de uma área –, eu o convido a fazer uma pausa. E também a praticar o exercício do questionamento de paradigmas. Até hoje, todas as inovações significativas a que assisti passaram de alguma forma por isso. Não é exatamente um processo confortável. Demanda esforço e pode trazer alguma inquietação.
Uma vez que a certeza é quebrada, dificilmente se volta atrás. Como escreveu o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han na obra Sociedade do Cansaço, o fato de um paradigma ser posto sob questionamento já é uma evidência de que ele pode estar em declínio. Confie na sua conexão dos pontos: é sobre analisar dados, cruzar informações, identificar exemplos, escutar o que se fala ao redor, sair da bolha. Quando a gente se propõe a fazer isso, de um jeito sincero e sem medo, o resultado é fascinante. Daí te pergunto: que paradigma você ou seu negócio precisam rever urgentemente? Aperte o pause.
*Andrea Bisker é CEO da Spark:off, consultoria de inovação e análise de tendências. Também é professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing