A trajetória do empresário Sandi Adamiu à frente do Sandi Hotel, de Paraty

Ao fundo, tecido baseado no casario de Paraty criado por Gregorio Kramer e Attilio Baschera

Com gestão pautada por colaboração e empatia, o empresário Sandi Adamiu transforma o Sandi Hotel, ícone de tradição e hospitalidade em Paraty, em grife de charme internacional

Texto Aline Vessoni
Fotos Paulo Freitas

A trajetória profissional do empresário Sandi Adamiu, hoje à frente do Sandi Hotel, um ícone em Paraty, se mistura com a história de sua família, e certamente poderia ser contada como um filme dos anos 1960. Tudo começou com a visita de seu avô materno, Joviro Foz, à cidade colonial com o amigo Jamil Klink (ele mesmo, pai do navegante Amyr Klink). Joviro se apaixonou pela natureza paratiense e comprou seu pedacinho de terra – onde hoje é a Villa Bom Jardim, primeiro negócio da família na região e uma das mais charmosas propriedades à beira-mar. A paixão se estendeu para todos os descendentes e os Foz passaram a veranear por aquelas bandas. Foi assim que Alexandre Adamiu, filho do imigrante judeu Sandi Adamiu (de quem o neto, hoje responsável pelo hotel, herdaria o nome) e fundador da lendária distribuidora Paris Filmes, também se encantou pelo paraíso.

O ano era 1986. Alexandre, empolgado pela arte de receber, e ao lado de Sandra Foz, sua esposa, decidiu ampliar as posses do casal e transformá-las em negócio: comprou dez imóveis no centro da cidade, fez uma bela reforma e inovou profundamente o setor hoteleiro de Paraty. O casal costumava receber muitos amigos, incluindo artistas internacionais. “Minha mãe sempre recebeu muito bem, ela é a rainha do negócio. O DNA do hotel vem dessa propriedade inicial que era o refúgio da nossa família”, conta Sandi.

Alexandre, no entanto, morreu jovem e o filho Sandi teve que assumir os negócios antes do previsto. “Fui apadrinhado por um grande amigo do meu pai, Lírio Parisotto – a quem eu devo muito. Ele me ajudou a estruturar os negócios e foi muito importante na minha vida”, diz. Mas o empresário estava acostumado com desafios e a se dedicar ao trabalho desde cedo, algo que atribui à origem judaica. “Desde os 13 anos já fazia estágio nas empresas da família”, conta. “Passei por várias áreas, sempre observando como meu pai tocava os negócios.” Inspirado, portanto, pelo pai e capacitado por tudo que observou ao longo dos anos, Sandi Adamiu seguiu com a empresa, sempre com uma dose extra de inovação.

Corta para 2020. Pandemia de coronavírus: cinemas e hotéis fechados, os dois negócios da família em xeque. “Com a pandemia, os cinemas fechados, concentrei todo meu esforço no hotel para uma virada de marca. E eu só poderia contar nossos 35 anos de história se conseguisse beneficiar outras pessoas. Assim, arrisquei fazer algo grande, trazendo muita gente comigo para essa transformação”, revela.

Uma das estratégias foi a mudança da cara do negócio, que passou de uma pousada de luxo simpática para um hotel-butique de padrão internacional. Sandi costuma dizer que se Trancoso tem o Quadrado, agora é a vez de Paraty também ter o seu Quadrado Mágico. “Com esse conceito do Quadrado Mágico, geramos valor para o hotel e benefício para o hóspede”, informa. “Agora, o elegantíssimo casarão do centro histórico ficou com este ‘quadrado’ aberto para a rua do comércio, e os serviços são acessíveis a hóspedes e outros turistas.”

Para a mãe e também proprietária Sandra Foz, o momento atual é um certo resgate do projeto inovador da pousada. “Estamos fazendo o que ninguém fez e isso foi a mesma coisa 35 anos atrás, quando a Pousada do Sandi foi a primeira de luxo do litoral. Temos certeza que teremos sucesso pelos próximos 35 anos”, acredita.

“Desde os 13 anos já fazia estágio nas empresas da família, sempre observando como meu pai tocava os negócios”

 

FOCO SOCIOAMBIENTAL

Além da reforma do espaço, Sandi Adamiu focou em ações de ESG. O “S”, de responsabilidade social, é bem representada pelo esforço na criação da Associação dos Amigos da Orquestra, que ajuda a manter a Orquestra Sinfônica de Paraty, e também leva música clássica para crianças e jovens da rede municipal de ensino. “Até me arrepio em dizer que agora essas crianças farão a abertura do [12º] Bourbon Festival Paraty”, emociona-se o empresário.

Outra ação que envolve sustentabilidade (o “E” do ESG) é a iniciativa em investimento em uma fazenda marinha para movimentar a economia solidária e beneficiar os trabalhadores locais. Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sandi trouxe sementes de vieira de Florianópolis e conseguiu fazer a produção de Paraty crescer rapidamente. “A fazenda marinha Coquille da Cajaíba sustenta, atualmente, uma família inteira do Pouso da Cajaíba e ainda emprega outras três pessoas”, explica ele. “Brinco que, na pandemia, vivi os melhores e os piores dias da minha vida. Ao mesmo tempo que perdi muito dinheiro, estava em um lugar privilegiado, no meio da natureza, reestruturando o meu negócio e ainda ajudando muita gente”, diz o empresário. “Eu sabia que poderia investir pensando em como esse dinheiro reverberaria na vida de outras pessoas e, dessa maneira, acabaria por escrever uma história linda”, completa.

MAPA DA MINA
Para passar muito bem em Paraty

Pippo Ristorante: restaurante siciliano

Apothekario: bar conceito e novo hotspot da cidade

Nectar Experience: agência que customiza passeios por Paraty e região

Kopenhagen: a franquia na cidade fluminense é certeira para um café

Gelateria Miracolo: a sorveteria mais famosa da cidade agora está na Pousada do Sandi.
Os hóspedes recebem um “welcome ice cream” ao chegar ao hotel