Por *LUA NITSCHE
ILUSTRAÇÃO JOÃO NITSCHE
Durante a pandemia a consciência e a sensibilidade do nosso espaço doméstico ampliou-se bastante. Para muitos, esse momento despertou um desejo de repensar o espaço da casa. Novas ideias e sonhos invadem nosso pensamento no sentido de renovação da vida.
É precisamente nesse momento, em que a sensibilidade para o espaço aflora, que o projeto de arquitetura ganha relevância.
Além de ser o conjunto de desenhos informativos que guiam a obra, assim como as partituras guiam os músicos, o projeto de arquitetura é, acima de tudo, um processo de articulação do fazer e do construir. O arquiteto é o maestro que vai conduzir esse processo organizando e traduzindo os desejos em possibilidades espaciais, reais e concretas. As plantas, cortes, elevações e imagens são a síntese de uma série de informações necessárias para aquilo que almejamos como o melhor possível da construção.
Em um mundo excessivamente rápido, onde instantaneamente acessamos milhares de imagens e aceleramos áudios, o projeto surge como um desafio de concentração e tempo. Ao contrário do mundo virtual, que hoje ganha formas no metaverso, a casa real é feita de materiais que têm peso, textura, desempenho termo-acústico e uma série de outras propriedades físicas com as quais os arquitetos e engenheiros estão familiarizados.
A escolha de soluções tecnicamente adequadas ao clima (o sol, a chuva, o calor, o frio, o vento), ao solo, ao custo e à durabilidade envolve uma constante pesquisa de materiais e formas de construir. Acrescentemos a isso o aumento da diversidade de produtos da indústria da construção civil realizada nos últimos 20 anos. Não à toa, feiras e lojas de construção se tornaram “megaeventos”. Nesse contexto, por vezes confuso, de múltiplas possibilidades, o arquiteto seleciona e orienta escolhas harmônicas e favoráveis ao projeto como um todo. Cabe a ele garantir a visão holística do processo.
A escolha de soluções também envolve aspectos ergonômicos, estéticos, culturais e ecológicos – o planeta também é a nossa casa! Afinal, quantos de nós não perceberam a importância de uma cadeira adequada à altura da mesa de trabalho na pandemia (ergonomia)? Mais além, quantos de nós conhecem o tipo de fundação necessária para manter uma casa sem trincas? E quais as soluções para uma cobertura eficiente? Uma cobertura que não permita entrada de água, não transmita calor e barulho e não exija manutenção constante? Um bom arquiteto terá as respostas!
Portanto, não podemos desconsiderar a importância da parceira nesse caminho, no percurso do fazer da arquitetura. Isto é projeto. Um processo que envolve articulações entre sonho e realidade. O melhor projeto será aquele em que a imaginação conecta-se com o real por meio de decisões felizes!
Lua Nitsche é arquiteta e urbanista formada pela Universidade de São Paulo, sócia da Nitsche Arquitetos Associados em parceria com o irmão Pedro Nitsche e professora de projeto na Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo