SUCESSO E FELICIDADE SÃO ASSUNTOS PARA DISCUTIR NA PANDEMIA?

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Por Maristela Mafei*

Você não precisa ter sucesso para ser feliz, mas precisa ser feliz para ter sucesso. A felicidade existe para extrairmos dela benefícios que melhorem nosso desempenho e potencial. Estudantes e executivos otimistas são mais bem-sucedidos do que os que passam horas estudando ou aprimorando o currículo. Essa conversa faz sentido na atualidade, numa pandemia avassaladora que nos afeta e a todos ao redor? Não? Como explicar então o sucesso do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz: O Curso Mais Concorrido de Uma das Melhores Universidades do Mundo, de Shawn Achor, em sua 23ª edição, mais de uma década depois de ter sido lançado?

Para começo de conversa, Achor é um dos maiores especialistas na relação entre felicidade e sucesso. Foi professor no curso de psicologia positiva, o mais popular de Harvard; suas palestras são requisitadas em instituições como o Pentágono e a Casa Branca, e o seu talk no TED tem mais de 23 milhões de visualizações. Fundou e comanda a GoodThink, que se propõe a levar a felicidade a empresas e pessoas por intermédio do programa O Benefício da Felicidade, considerado um dos mais bem-sucedidos treinamentos corporativos do mundo.

Com essas credenciais, ele procura provar em O Jeito Harvard de Ser Feliz que é um erro condicionar a felicidade ao sucesso de algum objetivo, como conseguir uma promoção ou perder peso, até porque o sentimento é breve e se esvai quando mudamos o foco. Para o autor, é a felicidade que traz o sucesso.

Se conseguimos que alguém mantenha seu nível de otimismo, ou aprofunde sua conexão social, todos os resultados de negócios e desempenho acadêmico aumentarão, diz Achor. Ele reforça sua tese com o case da seguradora Metlife, que decidiu contratar parte de seus funcionários pelo nível de otimismo que apresentavam, mesmo que fossem mal no teste de aptidão. Após um ano, os contratados por seu otimismo superaram em 19% as vendas do grupo escolhido pelos métodos convencionais, e no fim do segundo ano, em 57%.

A explicação, segundo Shawn Achor, é que só dá para prever 25% do sucesso de um funcionário por sua inteligência e habilidades técnicas. Os outros 75% são previstos por três outras características: o otimismo, as conexões pessoais e a maneira como lida com o estresse.

Para ser feliz e otimista e assim atingir o sucesso, o livro aponta sete princípios que condensamos aqui em quadro recomendações. A primeira, criar hábitos positivos que moldem seu cérebro para enxergar o mundo positivamente – praticar gratidão, meditação e exercícios físicos estão entre eles. A segunda, ver os problemas como desafios a superá-los com força total em vez de desistir. A terceira, jamais abandonar os amigos, mesmo que esteja atolado de trabalho. Caso falte o impulso inicial para superar os desafios e investir nas conexões sociais, parta para a quarta recomendação: pratique a regra dos 20 segundos, facilitando nesse tempo o início de um hábito positivo – Achor conta que dormia com as roupas da academia e deixava os tênis ao lado da cama para assegurar que iria se exercitar logo ao acordar.

A proposta é boa, mas a execução é complicada atualmente. O livro foi lançado quase simultaneamente com o WhatsApp e o Instagram, e hoje o conjunto das redes sociais consome a atenção das pessoas em celulares onipresentes. E ainda vivemos tempos de crise sanitária mundial, em que o grande objetivo de sucesso é continuar vivo.

Sim, podemos ter gratidão pela vacina, treinar o cérebro para ser otimista com a blindagem de uma boa máscara no rosto e fortalecer virtualmente nossas conexões sociais e isso talvez explique o sucesso que o livro continua fazendo mesmo em épocas tão obscuras. Mas, ser feliz mesmo, só fazendo alguma coisa para ajudar as pessoas mais vulneráveis a sobreviver com alguma dignidade na pandemia.

*Maristela Mafei é empreendedora Endeavor e fundadora da Máquina Notícia (atual Máquina Cohn&Wolfe)