Por Anna Laura Moura
Segundo pesquisa do Outdoor Social, levantamento com enfoque no potencial de consumo das periferias, as dez maiores favelas do Brasil juntas faturam no comércio interno cerca de R$ 7 bilhões – só a Rocinha (RJ) movimenta R$ 1,07 bilhão. Pensando nisso o G10 das Favelas, grupo das principais comunidades do país, decidiu criar o G10 Bank Participações, instituição financeira que surge com a promessa de ser uma rede de apoio a pequenos e micronegócios locais, fomentando empreendedores que em sua maioria se encontram com difícil acesso ao crédito. A iniciativa nasce com capital de R$ 1,8 milhão obtido com investidores e pretende chegar a R$ 20 milhões em uma segunda rodada de captação.
A urgência de projetos desse tipo encontra 46 milhões de brasileiros sem recursos bancários. “Boa parte dessas pessoas sonha em empreender, mas quando consegue acessar esse serviço é de maneira abusiva e com taxas altíssimas”, diz Gilson Rodrigues, coordenador nacional do G10 das Favelas e CEO do G10 Bank. Além disso, ele explica, a burocracia é excludente, uma vez que muitos moradores de favela não possuem endereço, CEP ou condições para comprovar sua existência. “Esses territórios informais não se encaixam nos processos burocráticos. Queremos democratizar o acesso ao crédito bancário”, resume.
De acordo com levantamento feito pelo Sebrae em parceria com a FGV entre mil entrevistados, as mulheres negras representam o maior número de empresas com as atividades interrompidas por conta da pandemia. Para Rodrigues, atividades econômicas promovidas por meio de créditos bancários auxiliam na manutenção do sexismo e do racismo. “Essa estrutura marginaliza a população empreendedora de favela, colocando essas pessoas em posição de desigualdade”, contesta. “O novo normal é, na verdade, o agravamento da fome e do desemprego.”
Desde já, a iniciativa do G10 Bank tem sido bem recebida pelos moradores, uma vez que 33% dos lucros serão distribuídos para as ações sociais locais – quem não obtiver condições para empreender poderá ter acesso aos ganhos que o banco independente oferecerá.
Para Rodrigues, a população brasileira não considera que a favela pretenda construir um banco próprio. Por isso, o projeto é visto com desconfiança por quem mora fora das comunidades periféricas. “Se fosse um homem branco morador do bairro dos Jardins, tenho certeza que os olhares desconfiados não existiriam”, aponta.
Apesar das dificuldades, o CEO acredita que a periferia tem se mostrado articulada e engajada em políticas públicas, papel social que deveria ser, de início, dos bancos tradicionais. “São 14 milhões de brasileiros favelados que precisam de apoio financeiro e estamos prontos para essa transformação. “Os territórios informais não se encaixam nos processos burocráticos. Queremos democratizar o acesso ao crédito bancário”