Waldemar Cordeiro: Um Multiartista de Seu Tempo

Waldemar Cordeiro || Crédito: Divulgação

Com espírito inovador e vanguardista, Waldemar Cordeiro desembarcou no Brasil vindo da Itália disposto a inovar. Transitou pelo abstracionismo, concretismo e paisagismo, tornando-se importante figura da arte brasileira do século 20

Por Ana Elisa Meyer

Figura importante da arte brasileira do século 20, o artista plástico, jornalista, crítico de arte e paisagista Waldemar Cordeiro transitou como poucos por muitos campos da produção artística, assim como da reflexão teórica. Explorou com entusiasmo algumas das principais correntes da época, a exemplo do expressionismo, do abstracionismo e do concretismo. Nascido na Itália, em 1925, filho de mãe italiana e pai brasileiro, estudou quando jovem no Liceu Tasso e na Academia de Belas Artes, em Roma. Em 1946, veio para o Brasil, fixando residência em São Paulo no início da agitada e inovadora década de 1950. Foi nesse momento que abandonou as características expressionistas de seus primeiros trabalhos e ingressou no abstracionismo, convicto de que arte deveria ter um papel transformador, não apenas permanecer uma mera repetição de padrões estéticos antigos, mas algo efetivamente novo. Em 1949, Cordeiro participou da mostra inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), intitulada Do Figurativismo ao Abstracionismo. Em 1951, mesmo mantendo uma postura crítica em relação ao projeto da 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo – que posteriormente tornou-se a festejada Bienal Internacional de Arte de São Paulo –, fez parte dessa primeira exibição, tornando-se assíduo participante das edições subsequentes.

Waldemar Cordeiro || Crédito: Reprodução

UM MANIFESTO
No ano seguinte, juntamente com Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto, os artistas poloneses Anatol Wladyslaw e Leopoldo Haar, o austríaco Lothar Charoux e o húngaro Féjer, inaugurou a exposição Ruptura – mesmo nome do grupo dos sete concretistas –, onde lançou um manifesto que marcou o início oficial da arte concreta no Brasil. Redigido por Cordeiro e diagramado por Haar, o documento estabeleceu uma posição firme contra as principais correntes no país, como o realismo social – característico de obras de artistas como Portinari e Di Cavalcanti – e uma não aceitação explícita da abstração informal. Foi neste momento em que Cordeiro rejeitou a ideia de arte como representação, como sensibilidade estética, e passou a defendêla como um processo de conhecimento. Para ele, o objeto artístico ganha autonomia, transformando-se em uma realidade em si. Com a utilização de materiais e instrumentos vindos da indústria, utilizando apenas cores primárias, o denominado grupo Ruptura prega a necessidade de criar uma arte acessível a todos, na qual o caráter autoral e decorativo dá lugar a uma ação real de transformação estética do mundo.

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DO CONCRETISMO À ARTEÔNICA
Politicamente engajado e defensor da arte como elemento fundamental do processo de mudança, Cordeiro passou a abordar em seus trabalhos, na década de 1960, os problemas sociais, criticando a alienação do indivíduo e o consumismo imposto pelos meios de comunicação de massas. Dessas questões nasceu a série Popcreto, criada conjuntamente por ele e pelo poeta concretista Augusto de Campos. Em 1968, iniciou um terceiro movimento de radicalização em sua carreira como um pioneiro da arte computacional, denominada por ele de arteônica. Acreditava ser essa uma consequência lógica do concretismo. Algo que anteciparia o impacto que o surgimento das novas tecnologias (a imagem virtual, manipulada e transcodificada) teria na arte contemporânea e na vida. “Fundamentalmente é uma atitude que conta – uma obra de arte não é um objeto, não é uma coisa, é uma proposta para o homem, uma proposta para a sociedade”, explicitou sua postura em depoimento gravado em 1970.

PAISAGISMO
Não tem como dissociar a obra de Waldemar Cordeiro de seus projetos paisagísticos. Usou de forma intensa os princípios de semelhança e proximidade da Gestalt Visual já empregados no concretismo que estão presentes tanto nos seus quadros como nos seus jardins. Em seus projetos geometrizados, era intencional aliar as questões práticas e conceituais da arquitetura com a disposição dos elementos paisagísticos – plantas, água, pedras. Iniciado em 1952, seus estudos nesse campo permearam de forma forte e com grande reconhecimento nos meios artísticos em toda sua carreira até sua morte, em 1973.