Marcos Amaro: de volta aos ares

Marcos Amaro || Crédito: Bruno Santos/Divulgação

Marcos Amaro, herdeiro do fundador da TAM, aterrissa no mercado de aviação executiva com empresa focada no segmento de propriedade compartilhada que promete ser a maior do país

Por Dado Abreu

Enquanto os números da aviação comercial estão nublados e os aeroportos seguem esvaziados devido à crise instaurada pela pandemia, uma parte específica do fluxo aéreo tem encontrado ventos mais favoráveis. Não que seja um céu de brigadeiro, mas a chamada aviação geral – que engloba voos particulares, executivos e táxi-aéreo – tem visto poucas nuvens da cabine e ganhou fôlego com um verdadeiro horizonte de oportunidades.

E nesse cenário acaba de aterrissar a Amaro Aviation, nova empreitada do empresário Marcos Amaro, filho do comandante Rolim Amaro (1942-2001), fundador da TAM Linhas Aéreas e mito da aviação comercial brasileira, que chega para atuar no segmento de propriedade compartilhada e gerenciamento de aeronaves, setores que ainda engatinham por aqui.

“A aviação nunca saiu de dentro de mim. Mas a decisão de voltar ao mercado aconteceu exclusivamente pela oportunidade que se apresentou”, conta Marcos, que desde que vendeu sua participação na TAM para os irmãos (que se uniram à chilena LAN dando origem à Latam) se tornou investidor, colecionador de arte, galerista e artista plástico.

Ele revela que um encontro em especial, ocorrido em 2019, foi fundamental para apostar todas as suas fichas no novo projeto. Amaro estava na Art Basel, a maior feira de artes do mundo, na Suíça, e se deparou com um dos diretores da NetJets, a principal empresa de propriedade compartilhada do planeta, com mais de 700 aeronaves e que tem o megainvestidor Warren Buffett como o maior acionista. “Perguntei se eles pretendiam operar no mercado brasileiro e a resposta foi negativa”, lembra. “Foi nessa hora que decidi entrar no negócio.”

O negócio em questão, comum no exterior, é a propriedade fracionada de aeronaves, na qual até oito pessoas dividem cotas de um avião através de uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) e compartilham o seu tempo de uso – até 50 horas por ano. O modelo pretende atrair aqueles que necessitam pontualmente de uma aeronave, mas não querem possuir o bem. Em tempos de pandemia a opção tem se mostrado também uma boa saída para reduzir os gastos fixos, manter o patrimônio, permitir o tempo de uso adequado e ainda evitar contratempos da aviação regular e os temores de contágio da Covid-19. A Amaro Aviation nasce com uma frota de três aviões: um turboélice PC-12 (com cotas aproximadamente no valor de US$ 1 milhão) e um jato PC-24 (cotas em US$ 2 milhões), da fabricante suíça Pilatus, conhecidos por sua robustez e capacidade de operar em pistas de terra, além de um Gulfstream G550 para voos mais longos. Desde que a empresa passou a comercializar as cotas das aeronaves, em janeiro, cerca de dez já foram vendidas.

“Esperamos chegar a uma dezena de aeronaves fracionadas ainda este ano e, futuramente, ter aeronaves próprias na frota. Estamos em processo para obtermos as licenças necessárias para nos tornarmos uma empresa de táxi-aéreo e, então, poderemos também vender horas de voo sem necessariamente fracionar as cotas da aeronave”, projeta Marcos, que tem entre os sócios no negócio o ex-CEO da TAM e um dos fundadores da GOL, David Barioni, e Francisco Lyra, da CFly Aviation, uma empresa de gestão de aeronaves que atua há 45 anos e foi incorporada com todos os seus clientes pela nova companhia.

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Duas mudanças regulatórias recentemente aprovadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) prometem destravar o mercado trazendo céus ainda mais favoráveis. A primeira é a que responsabiliza integralmente o operador de fractional (empresas como a Amaro Aviation) pela operação, inclusive criminalmente, e não os proprietários da aeronave, regra que traz segurança jurídica para o investidor, que passa a ter uma estrutura mais leve. A outra é a que libera vendas de assentos individuais para passageiros, abrindo um nicho de mercado para as empresas de táxi-aéreo e criando uma nova possibilidade de receita.

“Para abrir um negócio você tem que ter duas coisas: encontrar o timing certo e o feeling para realizá-lo. Essa combinação é o caminho para o sucesso e nós acreditamos que estamos trazendo um modelo original, único no país, no momento certo”, diz o empresário, com o conhecimento de quem, em 2008, aos 23 anos, adquiriu a Óticas Carol por R$ 40 milhões e a transformou na maior rede do ramo no país até vendê-la ao grupo italiano Luxottica pelo triplo do valor investido.

Atualmente, Marcos vive e trabalha entre o Brasil e Suíça e tem se dedicado ao mundo das artes. Ele criou o Fama Museu – Fábrica de Arte Marcos Amaro – em Itu, São Paulo, onde abriga seu acervo de colecionador e artista, e inaugurou a Kogan Amaro, galeria com espaços em São Paulo e Zurique. Um livro sobre a sua trajetória artística acaba de ser lançado pela Editora Cobogó, mas isso fica para outro capítulo. Porque a Amaro Aviation já vai decolar.