Professor Giovanni Guido Cerri explica como a tecnologia se tornou grande aliada da medicina atualmente

Presidente dos Conselhos dos Institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da FMUSP, ele afirma que houve uma aceleração do uso da tecnologia

Conversamos com o professor Giovanni Guido Cerri, presidente dos Conselhos dos Institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da FMUSP, para saber como a tecnologia cada vez mais se torna aliada da medicina nos dias de hoje, em especial em tempos de combate à Covid-19.

O QUE PODEMOS ESPERAR DO FUTURO DA MEDICINA?
Houve uma grande aceleração do uso da tecnologia e a saúde digital é um bom exemplo dessa mudança, por meio de teleconsultas, que passaram a fazer parte do atendimento usual, e do monitoramento à distância de pacientes, em especial os crônicos. A telecapacitação também avançou. O projeto Tele-UTI permitiu ao HC capacitar profissionais das UTIs do Estado de São Paulo, em um programa piloto que agora irá se expandir nacionalmente. O que se verificou é que a chance de mortalidade em uma UTI menos capacitada era 3,5 vezes maior e essa capacitação é importante para reduzir tal desigualdade. No futuro, a tecnologia 5G irá permitir que se possam fazer telecirurgias por meio da robótica sem a necessidade de um cirurgião no local. A ideia também é que cada paciente receba um tratamento específico – a medicina personalizada será o grande avanço do futuro do setor.

DE QUE FORMA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA TEM AJUDADO NO COMBATE À COVID-19?
Na nossa experiência no HCFMUSP tivemos importantes contribuições: uma plataforma de inteligência artificial que identifica os casos suspeitos na tomografia computadorizada, estimando a extensão de comprometimento da doença; a plataforma Radvid 19, que conectou mais de 60 hospitais no Brasil; a utilização de robôs para auxiliar na limpeza
hospitalar evitando a exposição dos profissionais de saúde. Agora, o Plano Nacional Saúde Digital do HCFMUSP, em colaboração com o governo britânico, visa construir um projeto que seja sustentável e replicável nacionalmente, e que inclua a teleconsulta, o monitoramento de pacientes a distância, o suporte com especialistas a lugares remotos,
entre outras iniciativas. Queremos que pelo menos 1/3 das consultas do HC sejam feitas a distância.

QUAL A IMPORTÂNCIA DA MEDICINA ESTAR PRÓXIMA DE OUTRAS ÁREAS?
A inovação em saúde funciona muito pela associação de médicos com engenheiros: um tem a ideia, o outro a executa; um sente a necessidade, o outro encontra a solução. O nosso laboratório de inteligência artificial é composto por médicos, um economista que trabalha na estruturação dos projetos, uma fisioterapeuta que se concentra na análise de dados, e quatro engenheiros. É uma equipe multidisciplinar porque precisa de muita análise, construção de algoritmos, conhecimento matemático e a visão prática do médico para saber quais dados são relevantes e precisam ser buscados.