Há uma profunda incompreensão, às vezes estimulada, do significado da palavra “lockdown”. Os governadores de São Paulo e do Distrito Federal, que decretaram medidas de restrição de circulação noturna em seus estados, não impuseram lockdowns como os vistos em diversos países da Ásia, Europa e mesmo em Buenos Aires, em 2020.
Nesses casos, ninguém circula, ou circula em dias alternados, e o morador fica sujeito a penalidades administrativas e eventualmente até criminais. Há ainda medidas de controle para reuniões domésticas.
Estamos muito longe disso.
Uma cidade brasileira, isoladamente, chegou perto desse modelo: Araraquara, em São Paulo.
O prefeito da Mountain View brasileira, capital caipira das startups e dos hackers, Edinho Silva (PT), decidiu pela dura decisão de decretar o lockdown à paulista ao constatar que a cepa P1, manauara, fazia estragos na cidade.
Apenas em 18 dias de março, a cidade já contabiliza o mesmo número de mortos por Covid-19 registrados ali ao longo de todo 2020.
O lockdown foi aplicado por dez dias entre 21 de fevereiro e 2 de março, com transporte público desativado e supermercados fechados nos primeiros seis dias.
Como resultado, as taxas diminuíram sensivelmente. Houve, segundo dados do município, quedas de 50% na transmissão do vírus, 43% na média móvel diária de casos e de 28% na quantidade de internações.
No domingo, com as manifestações pelo Brasil convocadas pelo bolsonarismo raiz contra as medidas de restrição, houve aglomeração no Tiro de Guerra da cidade. Sobre o fato, respondendo ao portal A Cidade On, o prefeito foi lapidar:
“Sou a favor de qualquer manifestação política, isso faz parte da democracia, mas em período de pandemia toda aglomeração, seja festa familiar, clandestina, grupo de amigos e em via pública [as pessoas] vão responder perante a lei. Não existe ninguém acima da lei.”