
Com a morte do papa Francisco, o Vaticano entra novamente no centro das atenções globais. Em poucas semanas, cardeais do mundo todo escolherão aquele que comandará a Igreja Católica em um dos momentos mais delicados de sua história recente.
Herança de Francisco ainda ecoa
Desde 2013, Francisco provocou abalos nas estruturas internas da Igreja. Ele promoveu uma agenda mais aberta e voltada ao diálogo, destacando temas como mudanças climáticas, justiça social, desigualdade e acolhimento de migrantes. Seu estilo pastoral e linguagem direta o aproximaram de fiéis que há muito se sentiam distantes da instituição.
Contudo, sua gestão também dividiu opiniões. Muitos viram em sua postura uma ruptura com valores tradicionais. Outros o acusaram de não ter ido longe o suficiente nas reformas, especialmente na luta contra os abusos cometidos dentro do clero.
Divisão interna desafia a unidade
Agora, com a preparação do Conclave, a Igreja enfrenta uma de suas tensões mais visíveis. De um lado, cardeais progressistas desejam manter o espírito reformista de Francisco. De outro, grupos conservadores exigem o retorno a uma ortodoxia mais rígida, inclusive em temas como sexualidade, família e papel da mulher na Igreja.
Esse conflito torna a escolha do novo papa um desafio diplomático e espiritual. Ele não será apenas o sucessor de Francisco, mas um símbolo da direção que o Vaticano escolherá seguir.
Pressões além das paredes do Vaticano
A missão do próximo pontífice vai muito além da fé. Ele terá de lidar com um mundo polarizado, em crise ambiental e social, além de um cenário internacional repleto de guerras, disputas ideológicas e declínio da influência religiosa em diversos países.
Para o teólogo Gerson Leite de Moraes, o novo papa precisará unir forças internas e externas: “Ele será desafiado a equilibrar doutrina com escuta. Fé com ciência. Eclesialidade com humanidade”.
Segundo Moraes, o Conclave também será influenciado pela geopolítica. “A origem do próximo papa pode enviar uma mensagem estratégica. A escolha de Francisco já foi um aceno para o Sul Global. Voltar a um papa europeu pode indicar outro tipo de reposicionamento”, explica.