
Por Jair Viana
A denúncia que levou à prisão temporária de Cleber Rodrigues Gimenez, investigador de polícia, partiu de uma fonte anônima cuja identidade nem mesmo a polícia conseguiu confirmar. O denunciante, que se identificou como “Thiago” ou “Amanda” – sim, a incerteza sobre o nome já é um indicativo da fragilidade do caso –, alegou que Cleber estaria envolvido em uma organização criminosa dedicada ao tráfico de drogas. Como “prova”, apresentou um suposto comprovante de transferência bancária via PIX no valor de R$ 100 mil, supostamente relacionado à venda de entorpecentes.
O problema é que esse comprovante não resiste ao mínimo de análise crítica. Não há nomes, números de contas ou qualquer informação que vincule a transação a Cleber. Quem enviou o PIX? Quem recebeu? Essas perguntas básicas permanecem sem resposta. Ainda assim, essa “prova” foi suficiente para justificar a prisão temporária do investigador.
Além disso, a denúncia anônima afirmava que Cleber utilizava imóveis em construção para esconder drogas e dinheiro. No entanto, buscas realizadas nos endereços mencionados não encontraram qualquer evidência que corroborasse essa acusação. Ou seja, mais uma alegação que se mostrou infundada.
FATO DISTORCIDO
Outro ponto que chama atenção é a foto apresentada pelo denunciante, que supostamente mostraria Cleber desviando drogas. Na realidade, a imagem é de uma operação policial legítima, registrada oficialmente, na qual Cleber atuou dentro da legalidade, com a presença de outros policiais e da delegada responsável. A tentativa de distorcer os fatos para incriminar o investigador é evidente.
Diante disso, é legítimo questionar: por que Cleber continua preso? A prisão temporária, que deveria ser uma medida excepcional e justificada, parece ter se transformado em um instrumento de punição antecipada, sem que haja provas concretas para sustentá-la. Cleber já está afastado de suas funções públicas e teve seu porte de arma suspenso, medidas que, em tese, garantiriam a continuidade das investigações sem a necessidade de sua prisão.
A situação se agrava quando consideramos o impacto midiático do caso. Informações sigilosas vazaram para a imprensa, criando um clima de espetáculo em torno da investigação. Esse tipo de exposição, além de violar o princípio da presunção de inocência, prejudica o direito à defesa e transforma a vida do acusado em um julgamento público, independentemente do resultado final do processo.
Cleber, mesmo em um Estado Democrático de Direito, está privado de sua liberdade com base em acusações frágeis. A denúncia anônima, sem verificação prévia de sua credibilidade, não pode ser o único fundamento para uma prisão. A justiça não pode ser feita com base em suposições ou interesses escusos.
O caso de Cleber é um alerta para a necessidade de maior rigor na análise de denúncias e na aplicação de medidas cautelares. A prisão temporária não pode ser usada como instrumento de conveniência para a polícia ou como forma de antecipar uma pena que ainda não foi devidamente comprovada.
A empresa cuja movimentação financeira é questionada pelos relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) atua no mercado há vários anos e nunca apresentou problemas, seja na polícia, na Justiça ou em qualquer outro órgão de fiscalização ou investigação.
Cleber foi sócio até 2019, quando se desvinculou da empresa, que continua comprando e vendendo carros. A confusão entre a movimentação financeira da empresa e a conta particular de Cleber, assim como outras dúvidas levantadas pela investigação, segundo a defesa, também já foram esclarecidas.