A semana foi difícil para o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que se tornou, talvez até um tanto involuntariamente, uma opção dentro do PSDB às pretensões presidenciais do governador paulista João Doria.
É que Leite supostamente usou parte da verba destinada pelo governo federal ao combate à pandemia para pagar salários do funcionalismo.
Vamos tentar começar do começo.
No domingo, Bolsonaro publicou uma série de tuítes em que discriminou valores enviados pela União aos estados para o combate à Covid-19.
Só que o presidente misturou alhos com bugalhos, colocando nos totais valores que a União tem por obrigação constitucional repassar aos entes federados. E que, de mais a mais, são gerados nos estados e nos municípios.
Leite subiu nas tamancas e acabou por se tornar mais um detrator do ocupante do Alvorada. Isso modificou seu status no PSDB, pois até aqui, ao contrário de Doria, vinha se mantendo equidistante em relação ao Planalto. A equidistância explica, aliás, seu crescimento político dentro do partido.
Escreveu Leite, em resposta ao movimento de Bolsonaro: “No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro fez uma postagem no Twitter em que informa ter repassado R$ 40,9 bilhões em 2020 ao RS, como se fosse um gesto de bondade de um gestor público preocupado com o avanço da doença entre os gaúchos. Não existe dinheiro federal, dinheiro do Bolsonaro, dinheiro do Leite: existe dinheiro da população, que é recolhido e precisa ser aplicado de acordo com regras constitucionais.”
Em 2020, o RS recebeu R$ 2,2 bilhões em recursos extraordinários da União. Dividiu-se R$ 259 milhões vinculados obrigatoriamente à Saúde e R$ 1,95 bi em recursos para livre destinação (não carimbados ou vinculados). O governador decidiu usar os bilhões para quitar salários de servidores públicos estaduais.
Opositores locais atacaram Eduardo Leite, dizendo que ele poderia ter usado a verba para aumentar a testagem e comprar mais vacinas (quando disponíveis), o que teria efeitos mais positivos sobre o controle da doença, que atingiu patamares tenebrosos no Rio Grande do Sul.
O deputado estadual Fábio Ostermann, líder do Novo na Assembleia Legislativa gaúcha, fez um fio didático em seu Twitter explicando o rolo. Sua crítica mais contundente a Leite foi esta:
“Com os recursos livres recebidos da União, poderíamos ter testado quase QUATRO VEZES cada gaúcho e mantido controle sobre o avanço da pandemia no Estado. Rastreando infecções da forma com que outros países já mostraram ser possível, não estaríamos em bandeira preta”, escreveu.
E seguiu em frente, lamentando o anúncio pelo governador de novos concursos para o funcionalismo estadual, que custarão, segundo o deputado, R$ 312 mi ao Estado.
Com tudo isso, alguém pode não estar tão descontente em São Paulo.