O golpista promete liberação de linha de crédito milionário; vítimas pagaram “assessoria” e ficaram no prejuízo
Por Jair Viana
Há três anos, usando o nome do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um grupo de golpistas já fez pelo menos nove vítimas em três estados. O golpe consiste na promessa de conseguir com facilidade linhas de crédito para os mais variados projetos. O principal envolvido no caso é Marcos Alexandre Kikutake, que se passa por assessor parlamentar e advogado. Ele diz ter trânsito na instituição e, com isso, conseguiria agilizar a liberação dos recursos. A investigação na Polícia Civil está a cargo da Delegacia Especial de Investigação Criminal (DEIC).
As duas primeiras vítimas, pai e filha, de São Paulo, tiveram prejuízo de R$ 60 mil juntos. Uma das vítimas de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, onde também mora Marcos Kikutake, teve prejuízo de R$ 30 mil. Ela teve a promessa de crédito de R$ 5 milhões, mas preferiu apenas R$ 2 milhões. Não conseguiu nenhum dos dois e ainda perdeu os R$ 30 mil.
Das duas vítimas de São Paulo, o golpista Marcos Kikutake tirou os R$ 60 mil, prometendo liberar no total R$ 12 milhões. Desses, R$ 7 milhões seriam para a filha, que opera no mercado atacadista e varejista e esperava os recursos para implementar os negócios. O seu pai esperava a liberação de R$ 5 milhões. Houve casos em que as vítimas perderam mais de R$ 150 mil.
LICENCIADO
Segundo uma das vítimas, Marcos Kikutake dizia ser assessor de parlamentares que teriam influência e poder junto ao BNDES. Ele não dava os nomes, alegando que eles não podiam ser expostos. Ainda alegando ser advogado, ele passava segurança sobre o que dizia a respeito do processo de levantamento dos recursos. Com os projetos em mãos, ele prometia dar andamento e pedia um prazo de até seis meses para que os recursos fossem liberados.
REFERÊNCIAS
Para convencer e conseguir a confiança das vítimas, Marcos citava supostos casos de sucesso. Falava de pessoas que teriam conseguido a linha de crédito e se dado muito bem. As vítimas passaram a confiar, já que ele insistia em citar exemplos de casos e mais casos de sucesso. Ele dizia que atuava há quatro anos junto ao BNDES.
Para dar o golpe em uma das vítimas, Marcos Kikutake contou o caso de um empresário de Presidente Prudente que, ao conseguir o empréstimo, teria conseguido dar andamento em vários empreendimentos. Isso despertou maior confiança da vítima nos argumentos que o golpista usava.
POLÍTICO
Na tentativa de fortalecer seus argumentos para garantir o sucesso do golpe, Marcos Kikutake dizia ser amigo e assessor do deputado Baleia Rossi, presidente do MDB. Outro nome citado o tempo todo pelo golpista é de João Batista Papini, o Juca, que teria sido funcionário de Baleia. Na verdade, o deputado é compadre de Juca, tendo batizado o filho do aliado. Baleia é citado por uma das vítimas como se estivesse envolvido no esquema de Marcos Kikutake.
DENÚNCIA
Com o passar do tempo, as vítimas começaram a cobrar o resultado. Marcos sempre tinha uma resposta pronta, alegando dificuldades naturais desse tipo de processo, pois sempre havia algum entrave. As vítimas perderam a paciência e procuraram a polícia, denunciando o golpe.
Mesmo com a polícia investigando o caso, Marcos ainda tentava manter as vítimas sob controle, apresentando novas alternativas para resolver o caso. Isso nunca aconteceu.
ENGANANDO
Marcos Kikutake, na tentativa de passar credibilidade, chega a exibir fotos com deputados, em local que parece ser o Congresso Nacional. Em mensagem por aplicativo, ele diz que está a caminho de uma reunião para resolver a questão dos empréstimos. Nas mensagens que troca com seus comparsas, ele sinaliza que realmente estaria providenciando os recursos prometidos às vítimas.
Em uma mensagem, Kikutake tenta passar a impressão de estar bravo com alguém que estaria demorando para resolver o assunto.
Uma das vítimas de Ribeirão Preto, apresentada ao farsante por seu próprio contador, que também acabou vítima de Marcos Kikutake, perdeu também R$ 30 mil. O falso lobista havia oferecido um crédito de R$ 5 milhões, mas a mulher preferiu apenas R$ 2 milhões. Não recebeu nem um nem outro valor.
De Goiás, uma das vítimas também teve grande prejuízo, além dos problemas pessoais que o golpe rendeu. Ela conta que conheceu Marcos Kikutake, o golpista, em agosto de 2021, em Brasília. “O Marcos se apresenta como advogado, como o doutor Marcos”, diz ela. Na verdade, ele nunca terminou o curso de Direito. Segundo a vítima, Marcos se aproximou dela por alguma razão que não soube explicar. Ela acredita que a aproximação do golpista se deu porque é prima da pessoa que ele mais queria estar perto. Outro motivo seria o fato de ela trabalhar, à época, no Ministério da Saúde. Marcos teria visto uma oportunidade para atacar outra vez.
Marcos procurou a vítima no Ministério da Saúde, quando disse saber que ela conhecia muitas empresas, muita gente. O golpista sempre querendo mostrar influência, contando que um homem chamado Juca conseguiu liberar crédito junto ao BNDES para quem tivesse CNPJ. Ela falou que não havia ninguém que desse dinheiro adiantado. Foi aí que um amigo dele que andava com ele resolveu fazer. A vítima tinha uma empresa. Ela disse que aceitaria fazer negócio só se houvesse garantia de dar certo. “E eu fiz o repasse para esse Juca”, disse.
OS ENVOLVIDOS
O golpista já havia dito às vítimas que estava respaldado por políticos influentes, mas começou a agir com sua esposa, Daiane, e o contador, Juliano, de uma das vítimas, que também acabou sendo vítima de Marcos Kikutake. Mas foi Juliano que colocou as vítimas em contato com o golpista, dizendo que já havia sido beneficiado com créditos junto ao BNDES.
OUTRO LADO
O acusado Marcos Alexandre Kikutake, procurado pela reportagem, negou que tenha praticado golpe. Ele disse que presta assessoria/consultoria e cobra pelos serviços que supostamente realiza.