O puxa-saco, a prostituta e você: Uma tríade inescapável da humanidade

Lua: Caverna descoberta poderia abrigar humanos; entenda
Antes da descoberta, cavernas lunares eram somente hipóteses – Reprodução Freepik (@wirestock)

Por Anderson Antunes

A arte de ser mal compreendido é mais sutil do que parece. Poucas figuras na história da humanidade conseguiram essa proeza com tanta competência como as prostitutas e os puxa-sacos.

Sim, eles sabem o que é ser olhado com o canto do olho, receber aquele sorriso condescendente… Mas estou aqui para defendê-los, porque há uma arte e uma sabedoria em seus métodos que poucos reconhecem.

Prostitutas e puxa-sacos. Duas categorias que, aparentemente, não têm nada em comum, exceto o fato de que ambas são desdenhadas. Ou, para ser mais preciso, desdenhadas publicamente e necessárias em segredo.

Porque para existir tanto o puxa-saco quanto a prostituta, alguém precisa estar desfrutando dos seus serviços, certo?

Essa só Freud sabe…

Prostitutas foram, talvez, as primeiras autônomas da história. Empreendedoras natas. E o que dizer sobre o papel delas na geopolítica? Será que não deveriam receber uma comissão da ONU por todas as guerras que evitaram?

Alguém precisa acalmar aquele ditador de dedo nervoso, e não me diga que é o assessor político. Está mais para a senhora do “amor pago”, garanto.

Prostitutas, as heroínas não ‘celebradas’ da história. O que seria de Nero sem sua cortesã para acalmá-lo antes que ele ateasse fogo a Roma por mera birra?

Quem teria mantido Alexandre, o Grande, ocupado enquanto ele refletia sobre outras formas de conquistar o mundo?

Essas mulheres não apenas oferecem prazer, mas também serenidade, um refúgio onde líderes tirânicos e executivos estressados podem encontrar paz.

Já pararam pra pensar que, sem elas, Steve Jobs talvez jamais tivesse tido aquela visão do iPhone? Ou que Wall Street teria implodido muito antes de 2008, se não fosse pela indústria do “wellness XXX”?

A prostituição é a ioga para a alma de muitos grandes homens. E os puxa-sacos? Ah, essas criaturas fascinantes, os delfins das selvas corporativas.

Não são bajuladores sem propósito, não. Eles são estudiosos do comportamento humano, verdadeiros antropólogos da cultura organizacional.

Enquanto o resto de nós passa a vida questionando, analisando, sofrendo, eles já resolveram o problema. Esses seres adaptáveis, esses camaleões corporativos.

Você pode achar que eles só servem para alimentar o ego do chefe, mas não se engane. Eles fazem muito mais do que isso.

Estudam, se adaptam, observam. São como os biólogos do mundo empresarial. Eles sabem que espécie sobreviverá ao próximo corte de funcionários e já estão planejando como entrar nessa lista.

O puxa-saco raiz entende que para pesar mais na balança da existência corporativa é melhor pegar carona com o chefe do que dividir o Uber com o coleguinha.

E os chefes adoram isso, se sentem valorizados, ouvidos, e não é coincidência que muitas “unicórnios” surgiram graças a essa simbiose.

Um bom puxa-saco é mais vital para agregar ao ‘brand equity’ de uma marca do que um bom plano de ESG. Mas não confundam o puxa-saco com o “yes man”, aquele horrível sujeito que diz sim para tudo e não oferece nenhum valor.

Esse é o legítimo parasita corporativista, sem cor, sem gosto, sem função. O verdadeiro puxa-saco, por outro lado, é uma orquídea, um ser complexo e intrigante que aumenta o ‘brand value’ da empresa com suas cores vibrantes e odores intensos.

Sugiro o seguinte: na próxima vez que encontrarem uma prostituta ou um puxa-saco, não os julguem. Aplaudam.

Porque eles fazem o mundo girar, em todos os sentidos imagináveis. E se você ainda não concorda, bom, talvez um dia precise de um ou de outro. E aí, quem sabe, entenderá… Et voilà!

 

Boi lerdo bebe água suja

Assim que você cruzar com uma dessas criaturas, talvez seja sábio dar um sorriso em vez de um franzir de sobrancelha. Afinal, todos temos nosso preço e nossa utilidade, só varia a moeda e o ambiente de troca.

E se ainda acha que esses personagens são dignos de escárnio, tenha cuidado. Você pode estar a apenas um passo, ou uma escolha, de se tornar o protagonista da sua própria ironia.

A vida tem uma maneira engraçada de nos tornar aquilo que menos esperamos, especialmente quando achamos que estamos acima de tudo e todos.

Enfim, o pulo do gato, a pièce de résistance do roman à clef, o burburinho da bomba: talvez a diferença entre uma prostituta e um puxa-saco seja apenas uma questão de… ‘benjamins’.

Sim, ambos cobram por um serviço que ninguém gosta de admitir que precisa. Ambos são artistas da sobrevivência em um palco montado por um público que finge desdém durante o dia e aplaude na calada da noite.

Mas quem é o hipócrita nesse cenário? O sujeito que critica o puxa-saco no café da empresa, mas que curte cada post dele no LinkedIn como se fosse um oráculo dos negócios?

Ou aquele que olha torto para a prostituta, mas tem o número dela salvo no celular como “Pizzaria Dona Margherita”?

E quem é mais competente do que aqueles que vivem na corda bamba entre o desprezo e a necessidade? É justamente quando as luzes se apagam e as portas se fecham que todos nós temos algo a aprender com as “profissões mais antigas do mundo”.

Talvez elas saibam algo que ainda não descobrimos: que o know-how para a sobrevivência não está em ser o mais forte ou o mais inteligente, mas o mais adaptável.

Pode até relevar o fato de que todas as pessoas são iguais, mas algumas são mais iguais do que outras… Mas as pessoas de quem você menos espera algo podem ser aquelas que mais têm a ensinar. E quando entender isso, talvez perceba que o maior puxa-saco de todos é você mesmo…

Puxando o saco da sua própria ignorância. || A.A.

Quantas vezes soube de pessoas que depois de terem sido não só traídos – o que, aliás, é o de menos, mas também desprezados, particular e publicamente (bem mais grave), não sossegaram até ter a pessoa de volta, jurando nunca mais falar sobre o passado? ~ DANUZA LEÃO