A eleição presidencial nos Estados Unidos sempre traz efeitos ao mercado global, e este ano não será diferente para o Brasil. Com Donald Trump e Kamala Harris disputando a presidência americana, analistas no Brasil estão de olho nas possíveis mudanças de política econômica que podem impactar o câmbio e setores estratégicos da economia brasileira. Para o Brasil, as implicações vão desde oscilações no dólar até a demanda por commodities.
Os efeitos de uma possível Vitória de Trump
Caso Trump vença, especialistas acreditam que o dólar pode se fortalecer ainda mais. Conhecido por políticas protecionistas e pela postura rígida em relação à China, Trump tende a aumentar tarifas e reduzir regulamentações para empresas americanas. Isso favorece as exportações brasileiras, especialmente para o setor de commodities, uma vez que a China, forçada a buscar alternativas, pode ampliar as importações de produtos brasileiros.
Carolina Bohnert, especialista em investimentos da The Hill Capital, explica que setores de exportação de commodities agrícolas, como SLC Agrícola e BrasilAgro, podem se beneficiar caso o dólar suba e a demanda chinesa se intensifique. Além disso, a mineração e siderurgia, como o grupo Gerdau, se destacam, pois uma possível alta nas tarifas de produtos chineses nos EUA pode elevar o preço do aço, favorecendo a exportação brasileira.
Contudo, um fortalecimento do dólar e um aumento nos juros dos EUA também pressionam o câmbio no Brasil, o que poderia dificultar o combate à inflação. A tendência seria juros altos no Brasil, e, com isso, empresas brasileiras que dependem do financiamento podem enfrentar mais dificuldades. William Castro Alves, da Avenue, observa que esse cenário não favorece a bolsa brasileira, principalmente os setores mais sensíveis a variações no câmbio.
O cenário com Kamala Harris
A eleição de Kamala Harris, por outro lado, traria um foco em regulamentações ambientais e em energias renováveis, prioridades já vistas na administração Biden. Isso representa uma oportunidade para empresas brasileiras focadas na transição energética, como a WEG, que possui operações no setor de energias solar e eólica. Esse mercado, apoiado pela tendência de crescimento de produtos biodegradáveis, também pode impulsionar empresas de papel e celulose, como a Suzano.
Outro ponto positivo seria a possível valorização do real, pois Kamala tende a promover políticas de menor pressão sobre o dólar. Um real mais valorizado favorece empresas com operações internacionais e reduz a pressão sobre o mercado local. Diego Chumah, gestor de bolsa macro do ASA Hedge, avalia que essa política menos agressiva para o dólar e juros baixos nos EUA beneficiariam setores sensíveis ao câmbio, como o de energia elétrica e outros que se baseiam na importação de insumos.
Além disso, a agenda verde de Kamala traz potencial para empresas de minerais críticos, como a Vale, que produz níquel e cobalto. Esses metais são essenciais na fabricação de baterias e outros componentes para tecnologias de energia renovável, um setor que deve crescer com um governo democrático voltado para sustentabilidade.
O que o investidor brasileiro deve considerar
Embora as perspectivas para cada candidato ofereçam oportunidades, os especialistas destacam que decisões de investimento não devem ser baseadas em especulações de curto prazo. William Castro Alves ressalta que, apesar das flutuações do câmbio e das oscilações na bolsa, é importante considerar o horizonte de médio a longo prazo.
“A hegemonia econômica dos EUA não mudará em quatro anos”, afirma Alves. Portanto, ele aconselha investidores a olharem para setores mais resilientes e menos dependentes de variações políticas. Ajustar portfólios para aproveitar potenciais de alta nos setores de commodities e energia renovável, por exemplo, pode ser interessante, mas sempre considerando o contexto macroeconômico global.
Setores de destaque no Brasil
Além dos setores de energia renovável e de commodities, as indústrias ligadas a infraestrutura e inovação, como semicondutores e inteligência artificial, também podem crescer em um cenário mais favorável às regulamentações ambientais. Esse panorama reforça a ideia de que a política econômica dos EUA impacta diretamente o Brasil, mas que uma estratégia equilibrada ajuda a minimizar riscos.