Música erudita: Orquestra Sinfônica Brasileira vai além dos palcos tradicionais

O público do Rock in Rio 40 vibrou com o concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira e com a Orquestra Sinfônica Jovem, que estreou no festival tocando músicas de Vivaldi e Beethoven, os rock stars de seu tempo.

A orquestra Jovem foi criada há um ano para promover a diversidade e abrir novas perspectivas a jovens com déficit social. A idealizadora deste projeto ambicioso foi a executiva Ana Flávia Cabral Souza Leite, vice-presidente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB).

Desde que ingressou na instituição em 2016, Ana Flávia tem feito uma pequena revolução. Primeiramente, executou um audacioso plano de inovação e recuperação que saneou as finanças da orquestra. Em seguida, sugeriu a criação do Projeto Conexões Musicais, um programa que leva educação musical a crianças, adolescentes e jovens de todo o país.

Para entender este e outros projetos da OSB, conversamos com esta executiva de pouco mais de 40 anos, que impressiona pela inteligência, facilidade de expressão e, por que não dizer, muito charme, simpatia e beleza.

Ana Flávia Cabral Souza Leite

Por que você sugeriu a criação da OSB Jovem?

A OSB sempre quis contribuir para a renovação do cenário musical. Nesse sentido, criamos uma orquestra na qual os jovens músicos pudessem aperfeiçoar a técnica instrumental, ampliar repertório e receber mentoria de alguns dos maiores instrumentistas do país.

Queríamos que a OSB Jovem fosse um retrato da nossa sociedade. E percebemos que o Brasil, hoje, é colorido, formado por pessoas com referências culturais distintas: religiosas, sociais, opções sexuais.

Por isso, no processo seletivo incentivamos a participação de pessoas negras, indígenas, mulheres, LGBTQIAP+, pessoas com deficiência e de baixa renda, alunos de escolas públicas ou bolsistas em instituições privadas.

 E qual foi o resultado?

Não podia ser melhor. De cara, conseguimos o patrocínio da Shell e um espaço na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) para sediar a orquestra. Com pouco menos de um mês da criação, fomos tema de uma reportagem no Jornal Nacional, o que nos rendeu um convite para tocar no Projeto Criança Esperança. De lá para cá, a trajetória da OSB Jovem continua um sucesso. Conseguimos vender todos os ingressos dos concertos – o que nem sempre ocorre com a OSB profissional. E a apresentação no Rock in Rio, diante de uma plateia lotada, foi a consagração dos nossos jovens talentos.

 A Orquestra Sinfônica profissional também se apresentou no Rock in Rio, como foi essa experiência?

Foi um espetáculo lindo em homenagem aos 50 anos de carreira da Alcione. Ao lado de grandes nomes como Diogo Nogueira, Mart’nália, Majur, Péricles, Maria Rita e a própria Alcione, nossa orquestra teve a honra de interpretar alguns dos maiores sucessos da carreira dessa lenda da música. Foi um encontro inesquecível de gerações e estilos, conectando a tradição do samba com a potência da técnica sinfônica.

 

Soubemos que o Projeto Conexões Musicais acaba de chegar a São Paulo. Como será este trabalho?

O projeto vai oferecer formação musical a alunos de nove escolas públicas e projetos sociais paulistanos. Com apoio da Núclea, promoveremos aulas de canto coral e de instrumentos, oficinas de sustentabilidade, concertos didáticos e concertos de integração.

Crianças e adolescentes poderão aprender técnicas de canto em grupo e até se apresentar em futuros concertos com a OSB. Já os estudantes de música de projetos sociais parceiros receberão aulas de instrumentos.

Além de todas essas atividades, teremos uma nova orquestra de sopros formada por alunos da escola Olga Benatti. A OSB cuidará também da restauração dos instrumentos musicais que a escola possui. Desde a sua criação, o Conexões Musicais já passou, de maneira itinerante, por mais de 30 cidades de oito estados. No Rio de Janeiro, o programa funciona de forma contínua, como ocorrerá agora em São Paulo.

No ano que vem, a OSB completará 85 anos. O que podemos esperar da programação?

A celebração deste marco histórico será repleta de música e diversidade para manter a OSB como uma referência cultural e educativa. Mas não quero adiantar muito para não estragar a surpresa.

Posso dizer que, na Série Mundo, traremos regentes e solistas de várias partes do mundo. Também apresentaremos os Concertos para Juventude, voltados para a formação de novas plateias. E retomaremos nossa antiga parceira com o Teatro Cultura Artística, em São Paulo, onde faremos seis concertos.

Mais do que nunca, estamos entusiasmados com as perspectivas que 2025 trará, não só para a OSB, mas também para o Conexões Musicais e a OSB Jovem. Como acreditamos no poder transformador da educação musical, queremos levar a música para além dos palcos tradicionais e atingir comunidades, escolas e, mais importante, os corações e mentes de milhares de brasileiros.