“Sustentabilidade é um conceito muito aplicado nos hospitais, mas no serviço de nutrição ele ainda é incipiente e superficial. Com todas as questões climáticas, precisamos fazer ações mais profundas na nutrição hospitalar”, alerta Weruska Davi Barrios, nutricionista e pesquisadora do ECCCo (Estudos para Ciência Cultura e Comida) da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O uso consciente dos recursos, como os alimentos, necessita de soluções que possam promover o melhor atendimento a pacientes com menos efeitos climáticos.
“Existem várias coisas que podemos mudar dentro do serviço, e a compra sustentável é uma delas. Precisamos olhar de onde são comprados esses alimentos e como é a produção: por exemplo, com uso de agrotóxicos, degradando o ambiente onde ele é produzido. A partir daí, os hospitais podem começar a segregar os fornecedores com foco na produção agroecológica, orgânica, o mais próximo possível deles para que demande menos logística também”, explica Weruska.
Outra solução apontada é o uso integral do alimento. Uma vez que é comprado um produto de qualidade, produzido sem agrotóxico e de forma sustentável, a utilização integral é mais viável e reduz os resíduos.
“Na área hospitalar, a redução de resíduos é um ponto importante. É possível reduzir esse resíduo usando o alimento de forma integral, como os talos, as cascas e as sementes, fazendo esse trabalho dentro de casa”, afirma a pesquisadora.
A busca pelo resíduo zero faz parte da preocupação das cozinhas, mas nem sempre é possível. Por isso, alguns hospitais já desenvolvem o trabalho de compostagem, visando ao aproveitamento do que não pôde ser utilizado na alimentação de pacientes.
“Atualmente, existem hospitais que já têm a sua própria forma de compostagem. Mas também podem ser usados recursos da comunidade, com ONGs que fazem essa coleta. Os hospitais precisam começar a destinar corretamente os resíduos orgânicos, da mesma forma que fazem com o plástico”, ressalta Weruska.
“Algumas ações vem sendo implementadas por instituições como o Hospital das Clínicas da FMUSP, que tem hortas próprias para produção de temperos e PANCS – plantas alimentícias não convencionais; o Hospital São Camilo, em São Paulo, que também possui uma produção significativa de hortaliças e PANCS para atendimento do paciente; e a Prefeitura de São Caetano do Sul, que incluirá nos hospitais municipais da cidade a compra sustentável da agricultura familiar, iniciando com a utilização da biomassa de banana verde como uma opção saudável e sustentável aos pacientes. “, assinala Marcelo Boeger, consultor e coordenador científico do congresso de hotelaria e facilities da Hospitalar.
A preocupação em transformar a sustentabilidade da nutrição hospitalar agrega valor aos hospitais e contribui para a melhora da saúde dos pacientes, que é o objetivo principal do setor.
“O nosso objetivo final, pensando na nutrição hospitalar, é a alimentação adequada e sustentável para esse paciente. Com essas mudanças, conseguimos agregar nessa qualidade diversas outras coisas que estão relacionadas com o nosso impacto no meio ambiente”, conclui a pesquisadora.