Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), ex-ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff entre 2011 e 2014, é filiada ao PT desde 1989. Ex-senadora, foi eleita em 2018 com a terceira maior votação do Paraná. Nesta entrevista a PODER Online, a parlamentar diz que o TSE “deveria se preocupar com Bolsonaro” e que existe um forte movimento suprapartidário para a “reconstrução da democracia”. Ela diz que o PT está focado em fazer grandes bancadas legislativas e reconhece a necessidade de o partido “reconectar” com os mais pobres, como sugeriu o rapper Mano Brown num comício de Fernando Haddad, no Rio, em 2018.
PODER Online – Em poucos meses, as campanhas presidenciais estarão desenhadas. O que o PT aprendeu com os percalços de 2018? O que ainda há para aprender?
Gleisi Hoffmann – Apesar de toda a desconstrução imposta ao PT nos últimos cinco anos, incluída a prisão do presidente Lula, tivemos um resultado positivo. Não ganhamos as eleições presidenciais, mas [Fernando] Haddad fez 47 milhões de votos. Fizemos quatro governadores e a maior bancada na Câmara dos Deputados. O projeto do partido ainda é tratado com muito respeito pela sociedade e, por isso, acredito que a estratégia na eleição de 2018 foi correta.
PODER Online – Na última campanha, Mano Brown criticou o PT no Rio falando sobre o partido ter abandonado os mais pobres. É correto dizer que o PT não se sensibiliza mais com a periferia?
GH – O Mano Brown é um companheiro de caminhada e tem todo o direito de falar sobre o que pensa, porque ele atua sobre as periferias. Naquele momento, ele quis chamar a atenção para o partido, dando a entender que quem segura o PT é a periferia. O partido precisa olhar e se recolocar junto com esse povo. É o que se vem fazendo: estamos nos reconectando com essa base social. Aquilo foi um alerta.
PODER Online – O partido tem intensificado as conversas com caciques diversos. Qual o limite para as alianças políticas?
GH – O limite das alianças está nas propostas que temos para o Brasil, está na inclusão do povo pobre na economia brasileira. O povo pobre precisa de emprego e renda. Os partidos que aceitarem [isso], estaremos dispostos a aceitar e compor.
PODER Online – Mas e as conversas com o MDB, por exemplo? Semana passada a senhora esteve em um jantar para o ex-presidente Lula na casa do Eunício Oliveira, ex-presidente do Senado. E, lá, havia gente a favor do impeachment de Dilma.
GH – As conversas, naquela ocasião, não tinham cunho eleitoral. Era sobre política; somos políticos, falamos sobre os anseios de enfrentar Bolsonaro, que é um desastre completo para o Brasil. Hoje, esse é o único diálogo que une todas as forças. Se isso vai ter resultado em uma aliança eleitoral, é outra coisa. Não era o foco naquele momento.
PODER Online – Acredita que uma vitória de Lula em 2022 possa ser impugnada pela Justiça Eleitoral?
GH – Não acredito. O presidente Lula mostrou que é inocente em todos os julgamentos de ações contra ele. Foram vinte. Em todas, ele venceu. Não tem nenhum problema hoje com a Justiça, nenhuma sentença transitada em julgado. Não tem motivo nenhum para o TSE agir contra o presidente [Lula].
PODER Online – O TSE tem estado mais atuante, foi contra a implementação do voto auditável.
GH – É importante o TSE estar atuante e defender os instrumentos eleitorais brasileiros. Nós também defendemos. Não há o que discutir sobre Lula. Se o TSE tiver que se preocupar, é com Bolsonaro.
PODER Online – As condições de governabilidade em 2023 estarão piores do que em 2003?
GH – Acho que não. Estamos vendo as pessoas reagindo, querendo reconstruir o Brasil. Hoje, as pessoas miram um único objetivo, mais [do] que qualquer outra coisa: reconstruir a democracia.
PODER Online – Para Lula ganhar as eleições no ano que vem, será necessário fazer um remake da “Carta ao Povo Brasileiro”, um novo chamamento público para o mercado financeiro?
GH – Recentemente, ele disse que a “Carta ao Povo Brasileiro” não seria mais necessária porque ele mostrou todas as suas diretrizes com ações durante o governo dele. Teve responsabilidade nas finanças e proporcionou o desenvolvimento social inclusivo. Não há necessidade mais de carta.
PODER Online – E a senhora, vai continuar na Câmara ou volta para o Senado, de onde veio?
GH – Continuarei na Câmara, que é a nossa prioridade. Todos os candidatos com condições de permanecer na Câmara têm sido instruídos a permanecer. Eleições difíceis como Senado e governo não estão no nosso panorama agora.