A explosão de outdoors em Brumadinho anunciando condomínios de luxo e carros importados em 2019, quando a cidade passava pelo luto do desastre do rompimento da barragem da Vale e, simultaneamente, vivia uma nova realidade socioeconômica com as indenizações pagas aos familiares das 270 vítimas e a chegada de pessoas de fora para trabalhar com a mineração da lama, foi o ponto de partida de Lucia Koch. A gaúcha radicada em São Paulo é um dos nomes do Comissionamentos Inhotim, programa do Instituto Inhotim que convida artistas para desenvolverem obras inéditas a partir de suas experiências com a instituição e seu entorno.
Nesse sábado (28), quase dois anos depois do convite, Lucia inaugurou a instalação “Propaganda” (2021), que traz embalagens vazias – um saco de carvão, três queijeiras e uma caixa de papelão de cogumelos – fotografadas internamente e que assumem uma escala de arquitetura, uma espécie de espaço virtual. Essas imagens em grandes dimensões foram colocadas em dispositivos de propaganda em Inhotim e espalhadas por Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte. “Por um ano, esses painéis não terão publicidade, não terão condomínio de luxo, não estarão vendendo seguro, curso de informática e, ao mesmo tempo, são substituídos por uma imagem que não esclarece muito o que está fazendo ali. Me interessava colocar esse tipo de perturbação naquele lugar”, diz Lucia, sobre os outdoors espalhados pela cidade com as fotos dos produtos conhecidos pelos moradores. “Também quis ver essas imagens duplicadas, reaparecendo em Inhotim e vice-versa.”
Outra provocação vem da obra “O Espaço Físico Pode ser um Lugar Abstrato, Complexo e em Construção” (2021), de Rommulo Vieira Conceição, mais um artista do programa de comissionamento do instituto. À primeira vista, a instalação colorida e brilhante atrai, como um parquinho infantil, e logo causa desconforto a partir do momento em que são identificados elementos arquitetônicos religiosos, como domos judaicos, frontões das neorreligiões, quartinhas africanas, referências das cidades históricas mineiras e cúpulas islâmicas, todos embaralhados de forma labiríntica, com intervenção de grades e sustentados por andaimes. “O Brasil era visto como um país multicor, diverso, com culturas possíveis e harmônicas, mesmo a gente sabendo que não era bem assim. Mas em 2013 tem um marco da intolerância, o crescimento dos extremismos religiosos com a campanha contra o aborto e que vai repercutir em 2016, 2018…”, explica o artista baiano radicado em Porto Alegre. A instalação pintada em cores primárias e secundárias não só atraem como passam o recado. “As cores são complementares, mas as religiões não, elas são antagônicas”, resume Rommulo.
Mais uma novidade em um dos maiores museus a céu aberto do mundo é a inauguração da exposição “Entre Terras”, individual da artista sueco-americana Aleksandra Mir, que ocupa a Galeria Praça com desenhos de caneta Sharpie em grande escala da série “Mediterranean“ (2007), que aconteceu também nesse final de semana. Já a aguardadíssima galeria dedicada a Yayoi Kusama, também parte das comemorações dos 15 anos de Inhotim, está prevista para o primeiro semestre de 2022. (Por Luciana Franca)