Minuta golpista foi despachada com Bolsonaro, diz general em áudio

Bolsonaro e aliados temem avanço da investigação e preparam estratégia política
Jair Bolsonaro. | Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Um áudio divulgado pela Polícia Federal no último domingo (23) revelou um novo capítulo da investigação sobre a minuta golpista associada ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A gravação expõe o general da reserva Mario Fernandes, que confirma a autenticidade do documento e afirma que ele foi despachado diretamente com Bolsonaro nos dias finais de sua gestão.

A fala do militar foi registrada em 7 de dezembro de 2022 e enviada ao também general Luiz Eduardo Ramos, que atuou como ministro da Secretaria-Geral da Presidência. No áudio, Mario Fernandes admite que o decreto golpista foi discutido em reunião com o então presidente:

“Kid Preto, falei com o Renato. O decreto é real, foi despachado ontem com o presidente. É, [risos], movimento, eu tô de olho aqui. Se for o caso, eu aciono o senhor para voltar.”

A Polícia Federal incluiu esse material no relatório da investigação que resultou na denúncia de 34 pessoas por envolvimento em atos contra o Estado Democrático de Direito. A Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou a acusação ao Supremo Tribunal Federal (STF), que analisará o caso.

Reunião com chefes militares reforça suspeitas

Segundo os investigadores, a mensagem do general foi enviada no mesmo dia em que Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, para apresentar a minuta de decreto. Esse documento previa medidas inconstitucionais para reverter o resultado da eleição presidencial.

O conteúdo da gravação amplia os indícios de que havia uma organização interna para questionar e enfraquecer a democracia. A PF já havia encontrado outros registros e trocas de mensagens que indicam que a minuta foi discutida entre integrantes do governo e setores das Forças Armadas.

Quem é Mario Fernandes

O general da reserva Mario Fernandes foi preso preventivamente em novembro de 2024. Ele é suspeito de participar da articulação de um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Antes de ser detido, ele atuava como assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ). Durante o governo Bolsonaro, ocupou o cargo de chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência.