Por Agenor Duque
Em meio a um cenário de devastação na Faixa de Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu que a Jordânia e o Egito recebessem palestinos oriundos do território como uma forma de solução temporária ou mesmo de longo prazo. Durante um voo presidencial, após um encontro com o rei Abdullah da Jordânia no último sábado, Trump lançou a ideia que gerou reações imediatas e majoritariamente negativas dos países árabes e grupos palestinos.
“É literalmente um local de demolição. Quase tudo foi destruído, e as pessoas estão morrendo lá. Prefiro colaborar com algumas nações árabes para construir moradias em outro lugar onde elas possam viver em paz, pelo menos por um tempo”, disse Trump a repórteres a bordo do Air Force One. “Estamos falando de um milhão e meio de pessoas, e simplesmente limparíamos tudo aquilo”.
Trump afirmou que pretende discutir a ideia também com o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi com urgência. No entanto, tanto a Jordânia quanto o Egito já sinalizaram sua rejeição à proposta. A Jordânia é lar de milhões de palestinos e tem mantido uma posição firme contra o deslocamento de mais refugiados para seu território. O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reforçou essa postura, descrevendo a rejeição do país à ideia como “firme e inabalável”.
O Hamas, grupo que controla Gaza, também rechaçou prontamente a proposta. Basem Naim, agente político do Hamas, disse a um veículo de imprensa: “Nosso povo permanecerá firme e não deixará sua terra natal”. Sami Abu Zuhri, outra autoridade do Hamas, criticou Trump por repetir ideias “fracassadas” tentadas por seu antecessor, Joe Biden.
A guerra entre Israel e Hamas, iniciada em outubro de 2023, deixou a Faixa de Gaza em ruínas, com estimativas da ONU indicando que a maioria das estruturas do território foram danificadas ou destruídas. A população antes do conflito era de cerca de 2,3 milhões de pessoas, agora muitas delas foram deslocadas internamente devido aos ataques.
Os comentários de Trump foram feitos em um contexto de crise humanitária grave na região, com agências de direitos humanos e humanitárias expressando preocupações sobre o deslocamento forçado e a falta de recursos básicos para a população palestina. A guerra resultou na morte de dezenas de milhares pessoas, a maioria civis; segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, os palestinos foram os que mais sofreram perdas fatais.
O presidente palestino Mahmoud Abbas, apoiado pelo Ocidente, também condenou os comentários de Trump. “Nosso povo permanecerá firme e não deixará sua terra natal”, disse em um comunicado publicado pela agência de notícias oficial palestina Wafa. O analista palestino Ghassan al-Khatib declarou que tanto palestinos quanto jordanianos e egípcios rejeitariam a ideia: “Não acho que haja um lugar na realidade para tal ideia”.
Em Israel, a proposta de Trump também encontrou reações mistas. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, elogiou a proposta, enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a descartou. Essa divisão reflete uma realidade complexa na política israelense, onde parte do governo é a favor do reassentamento de palestinos em outros países, enquanto outra parte busca soluções diferentes para o conflito na região.
O apoio do governo dos EUA a Israel, especialmente em tempos de conflito, tem sido alvo de críticas. Washington defende que está ajudando Israel a se proteger de grupos militantes como o Hamas, apoiado pelo Irã. No entanto, essa postura tem gerado descontentamento em diversos setores, que acusam os EUA de favorecer a destruição em Gaza sem buscar uma solução sustentável para o conflito.
As declarações de Trump levantaram debates sobre a viabilidade e a moralidade de tais movimentos de população. Desde a fundação de Israel em 1948, a questão dos refugiados palestinos tem sido um ponto sensível, com milhões vivendo em campos de refugiados na Jordânia, Líbano e Síria. Qualquer sugestão de deslocamento forçado ou reassentamento é vista com extrema desconfiança pelos palestinos e pela comunidade internacional, que há décadas busca uma solução justa e duradoura para a questão do Estado Palestino.
Enquanto Trump lançou sua proposta em meio a uma viagem diplomática, a realidade no terreno em Gaza continua desesperadora. Com infraestruturas essenciais como hospitais, escolas e residências destruídas, a necessidade de assistência humanitária é urgente. Organizações internacionais, incluindo a ONU, alertam que a reconstrução total de Gaza pode levar décadas, caso seja alcançada uma paz duradoura.
Em uma tentativa de aliviar a situação, Trump destacou a necessidade de colaboração com nações árabes para criar moradias alternativas. No entanto, a rejeição imediata dos principais aliados árabes deixa claro que a solução para Gaza permanece complexa e distante. A resistência a qualquer plano de deslocamento sugere que os palestinos e seus apoiadores estão firmes em suas reivindicações territoriais e direitos de retorno.
Ao seguir com seus compromissos diplomáticos, Trump pode encontrar um caminho difícil pela frente para conciliar suas ideias com as realidades políticas e humanitárias da região. Em última análise, a busca por uma resolução pacífica e justa para o conflito israelo-palestino continuará a ser um dos desafios mais intratáveis da política internacional.