A nova corrida pela Groenlândia: Ambições de Trump e riquezas estratégicas em jogo

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O interesse renovado de Donald Trump pela Groenlândia trouxe à tona a importância estratégica e econômica da maior ilha do mundo. Em uma coletiva de imprensa recente em Mar-a-Lago, o presidente eleito dos Estados Unidos não descartou o uso de força militar para obter controle da Groenlândia, argumentando que a região é essencial para a segurança nacional americana.

Essa não é a primeira vez que Trump manifesta sua intenção em relação à ilha. Em 2019, durante seu primeiro mandato, o republicano já havia classificado a aquisição da Groenlândia como “um grande negócio imobiliário”. Agora, no entanto, o contexto é diferente: a descoberta de vastos depósitos de minerais raros na Groenlândia transformou o território em um ponto de disputa geopolítica e econômica.

A riqueza por baixo do gelo

Segundo um relatório publicado em 2023 pelo Serviço Geológico da Dinamarca e Groenlândia, áreas da ilha não cobertas por gelo abrigam reservas significativas de 38 minerais considerados críticos pela Comissão Europeia. Entre eles estão cobre, grafite, nióbio, titânio e as chamadas terras raras, fundamentais para a produção de turbinas eólicas, motores de carros elétricos e outras tecnologias verdes.

Estima-se que a Groenlândia possa conter até 25% das reservas globais de terras raras, o que representa cerca de 1,5 milhão de toneladas. Essa abundância coloca a ilha no centro da transição energética global, aumentando o interesse de potências como China, Estados Unidos e União Europeia.

A disputa com a China

Hoje, a China domina o mercado global de terras raras, controlando 60% da extração e 85% do processamento desses elementos. Esse monopólio vem gerando tensões internacionais, com países buscando diversificar suas fontes. Na Groenlândia, duas mineradoras australianas já operam, mas uma delas tem participação da estatal chinesa Shenghe Resources, o que reforça a presença estratégica de Pequim na região.

Durante seu primeiro mandato, Trump incluiu terras raras na lista de materiais críticos para a segurança nacional americana e firmou acordos de cooperação científica com a Groenlândia. Porém, a pressão americana para conter a influência chinesa na ilha enfrenta desafios, como o fortalecimento dos laços da Groenlândia com a Dinamarca e a presença crescente de investimentos chineses no Ártico.

Os desafios logísticos e políticos

Apesar das riquezas minerais, especialistas alertam para os obstáculos de transformar essas reservas em uma fonte comercial viável. A exploração em larga escala na Groenlândia pode levar mais de uma década para se concretizar, devido a fatores como infraestrutura limitada, clima extremo e dificuldades de transporte em uma região remota e repleta de icebergs.

Além disso, o atual primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, defende a independência da ilha, mas rejeita interferências externas. A Dinamarca, que mantém soberania sobre o território, reafirmou que a Groenlândia “não está à venda”.

Interesses estratégicos e geopolíticos

A base aérea americana de Thule, localizada no extremo norte da Groenlândia, é um ponto estratégico para os EUA desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a crescente militarização da região também reflete a preocupação de Washington em conter a expansão chinesa no Ártico, região rica em recursos e rota estratégica para o comércio global.

Com a posse de Trump marcada para 20 de janeiro, a Groenlândia parece estar no centro das ambições expansionistas do republicano. Resta saber se essas aspirações enfrentarão barreiras insuperáveis ou se inaugurarão um novo capítulo na disputa por recursos estratégicos no Ártico.

 

Fonte: BBC Brasil